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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Saldo do Carnaval
Para onde vai o Carnaval? Há
uma densidade de elementos culturais e folclóricos que marcam, há
anos, em nossas cidades os dias de
Carnaval. É festa de crianças que se
alegram ao usar fantasias e sonhar de
olhos abertos. Escolas e colégios organizam teatros e jograis. Há clubes que
se ornamentam para distrair a meninada e suas famílias. Prefeituras enfeitam ruas e praças.
O Carnaval, no entanto, veio evoluindo (ou involuindo): desfiles de
grupos , o "corso" de carros com serpentinas entre cantos das famosas
modinhas da ocasião. Lembro-me dos
anos 40, quando, em criança, contemplava os carros abertos a passarem pela avenida Rio Branco no Rio de Janeiro. Era um espetáculo divertido e sem
maldade. Havia alguns excessos nos
salões de baile e nas noitadas marcadas não raro por desmandos e rixas.
Vinha depois a Quarta-Feira de Cinzas e o povo voltava à normalidade de
seus trabalhos.
Os anos passam. O Carnaval cresceu. Surgiram os sambódromos, as
competições de escolas e o desfile de
carros alegóricos, assim como o incentivo ao turismo internacional.
No entanto tudo tem seu preço. E
aqui o maior custo é moral. Quem não
percebe o descontrole comportamental que caracteriza os dias de folia? O
enorme consumo de bebida alcoólica,
aliado ao uso da droga, altera e multiplica as situações de alienação, de perda de controle, de desrespeito. Age-se
mais por instinto. A pessoa deixa-se
levar a atitudes que tornam seu procedimento quase irreconhecível. Assim,
nos dias de Carnaval, a novidade das
canções, as alegorias criativas e o ambiente de festa popular, infelizmente,
unem-se a fortes desmandos morais,
ao aumento da criminalidade, a desavenças e a agressões entre grupos carnavalescos, a grave dano para a família. Há índice maior de acidentes e poluição sonora durante as noites e madrugadas.
Tudo isso nos obriga a refletir e a
perceber que os dias de Carnaval causam um dano cada vez maior à vida de
nosso povo. Os eventuais benefícios
artísticos são anulados pelo gravíssimo prejuízo moral. Isso exige um esforço coletivo para coibir excessos,
salvaguardar valores éticos e zelar pelo
patrimônio moral de nosso povo.
Há uma agravante que não pode ser
esquecida. São os gastos dos governos
municipais e estaduais com as ornamentações carnavalescas. Isso acontece em contraste com o esforço nacional para superar a miséria e a fome e
exige uma revisão de critérios para o
uso da verba pública. Os gastos que
muitos fazem nestes dias poderiam favorecer novas opções de trabalho e
beneficiar pessoas desfavorecidas.
A reflexão mais profunda, no entanto, deve ser feita na oração e à luz de
Deus. Os desmandos morais não apenas prejudicam nossa consciência e lesam o próximo mas são ofensa a Deus,
que nos atrai à retidão, à virtude e ao
bem. Compreendemos, assim, que
grupos cada vez mais numerosos se
reúnem nestes dias para encontros de
oração, retiros espirituais. A exclusão
da guerra e a superação da fome passam pela conquista de valores morais
e nos obrigam a repensar com objetividade todo o evento do Carnaval e a
identificar o saldo negativo que causa
à nossa população.
Deus nos ajude a bem discernir
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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