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Inflexão nas finanças
Ameaçado pela crise, governo Bush muda tendência histórica ao interromper décadas de desregulação financeira
DESDE 1980, o governo
norte-americano, forçado pelas inovações e
pela internacionalização das finanças, vinha modificando o arcabouço institucional
do seu sistema financeiro, articulado na Grande Depressão da
década de 1930.
A desregulamentação e a liberalização davam a tônica. Bancos
comerciais foram autorizados a
exercer atividades típicas de
bancos de investimento, tais como administração de ativos e
operação no mercado de seguros, mediante a formação de holdings financeiras. Assim, os bancos comerciais voltaram a operar
como "supermercados financeiros", como nos anos 1920.
Por outro lado, os Estados Unidos mantiveram uma multiplicidade de instituições encarregadas de supervisionar e controlar
o sistema bancário e financeiro.
Exatamente como antes da segmentação dos mercados promovida pelo presidente Franklin
Delano Roosevelt, o sistema financeiro americano, no calor da
concorrência, violou seguidamente as normas de conduta em
períodos de euforia.
Um modelo desregulamentado, cheio de choques entre as
instâncias burocráticas de supervisão, propiciou a explosão
das hipotecas de alto risco e seus
múltiplos instrumentos financeiros. A crise escancarou a péssima avaliação de riscos de crédito, os conflitos de interesse nas
agências de classificação e a baixa transparência de operações
bilionárias que passavam ao largo dos balanços dos bancos.
Diante da crise das hipotecas
de alto risco e dos problemas de
supervisão, o governo americano
anuncia, agora, um vasto projeto
de reforma da arquitetura reguladora do setor financeiro. O plano designa o Fed (banco central)
como "regulador de estabilidade
de mercado", ampliando seus
poderes para examinar os balanços de quaisquer instituições financeiras (bancos comerciais, de
investimento, companhias de seguro e fundos de investimentos)
e implementar ações corretivas.
As diversas agências reguladoras seriam consolidadas em apenas três corpos burocráticos: um
"regulador financeiro preventivo" para as operações diárias das
instituições financeiras; uma
agência de vigilância dos empréstimos imobiliários; uma
agência para regular a conduta
dos investidores e dar proteção
ao consumidor.
Vale lembrar que, para tornar-se realidade, o projeto do governo Bush precisa passar pela
aprovação do Congresso -em
ano de eleição. Isso provavelmente desencadeará batalhas
envolvendo agências públicas,
candidatos em busca de votos e
financiamento e o poderoso
lobby de Wall Street.
Seja qual for o resultado dessa
disputa, um aperto na normatização da finança mundial tornou-se indispensável. Como disse o secretário do Tesouro,
Henry Paulson: "A estrutura de
nossa regulamentação não está
adaptada a um sistema financeiro extremamente complexo, globalizado e heterogêneo".
Mercados financeiros mal regulamentados e supervisionados
tendem a exacerbar riscos na
busca de ganhos extraordinários.
Quando as bolhas estouram, o
erário é chamado a salvar aventureiros, com prejuízos monumentais para toda a sociedade.
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