São Paulo, terça-feira, 01 de maio de 2001

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A MENTIRA É UMA DROGA

A maconha é uma droga como qualquer outra e provoca uma série de males. O dano é proporcional à frequência com que o indivíduo faz uso da substância. Mesmo sabendo disso, parcela significativa dos jovens experimenta a Cannabis.
A maioria deles fumará algumas vezes e acabará deixando o hábito de lado, sem consequências mais deletérias para o organismo. Por razões que a ciência ainda ignora, uma fração dos usuários desenvolverá problemas mais sérios, notadamente a dependência química, simples ou cruzada com outras drogas.
É, portanto, papel do educador alertar para os riscos. O pedagogo, contudo, não deve nutrir grandes esperanças. Seus alertas dificilmente impedirão o jovem de provar a droga. Mas servirão para que o faça ciente dos perigos que corre.
Resta saber como deveria agir o educador quando apanha o aluno fumando maconha. Uma escola de orientação liberal (construtivista) do Rio de Janeiro acaba de dar uma resposta. Expulsou quatro estudantes que admitiram ter fumado durante uma excursão escolar a Ouro Preto.
O caso ganhou as manchetes dos jornais porque colegas protestaram. Dizem que muitos outros também usaram a droga, mas apenas os quatro que tiveram a coragem de admitir foram punidos. Com uma ponta de ironia, deduziram a seguinte máxima: "Não diga a verdade. Não admita seus atos. Minta".
Aparentemente o colégio se excedeu. É claro que houve violação à norma interna do colégio e à própria lei brasileira. Ela não poderia passar impune. A sanção escolhida, a expulsão, parece exagerada. Vale lembrar que, ao punir apenas os que falaram a verdade, a escola como que recompensa os que com ela faltaram. O silogismo dos alunos é, infelizmente, válido. Mentir foi oportuno.
Ou a escola ignora os valores pedagógicos mais elevados ou, ao contrário, age com pragmatismo excessivo. Está ensinando a "lei de Gérson" - vale a pena levar vantagem em tudo.


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