São Paulo, terça-feira, 01 de maio de 2007

Próximo Texto | Índice

Avanços tímidos

A taxa de desemprego tem registrado queda descontínua e lenta, apesar da moderada expansão da economia

O FERIADO do Dia do Trabalho, que se comemora hoje, é uma ocasião propícia para discutir os temas do emprego e do rendimento dos trabalhadores.
Desde 2005, muito embora a economia tenha se mantido em moderada expansão, a taxa de desemprego tem tido redução descontínua e bastante lenta. Os novos dados relativos ao PIB, divulgados pelo IBGE há algumas semanas, revelaram que nos últimos anos o crescimento da economia foi um pouco maior do que se avaliava, mas isso em nada alterou as informações sobre o mercado de trabalho.
Nesse particular, o que a nova série de dados do PIB suscitou foi uma constatação inquietante: a elevação de um ponto percentual do produto se traduziu num volume de criação de empregos ainda menor do que se estimava.
As pesquisas disponíveis trazem mais informações, e mais atualizadas, sobre a situação do mercado de trabalho nas maiores metrópoles do país. Nessas regiões, o tempo médio que um trabalhador desempregado leva para encontrar uma nova ocupação continua muito longo -quase um ano- e prossegue especialmente alta a incidência da desocupação entre os jovens, fatores que contribuem para um ambiente em que a criminalidade viceja e se apresenta como alternativa de vida. Os programas oficiais voltados a atacar essa questão estão longe de se revelar eficazes e suficientes.
A evolução recente do nível dos rendimentos dos trabalhadores tem sido positiva, graças, em boa medida, ao recuo da inflação observado desde 2003. Ainda assim, ressalvas se fazem necessárias. Uma primeira é que, dado o nível baixo já atingido pela inflação, o espaço para recuos adicionais é pequeno, o que limita o fôlego futuro desse mecanismo de recomposição do poder de compra dos trabalhadores.
Outra ressalva diz respeito ao fato de que, segundo algumas estimativas, em média a remuneração do trabalho nas faixas de renda mais alta ainda se situa abaixo do nível vigente em 1998. Assim, um dos componentes da discreta melhora da distribuição de renda nos últimos anos, captada por alguns levantamentos, é o empobrecimento da classe média, o que configura um indesejável nivelamento "por baixo".
Aspecto em que tem havido avanço é o da formalização das relações de trabalho. Em contraste com o que se observou na década de 90, nos anos recentes tem aumentado a participação, no universo dos trabalhadores ocupados, daqueles que têm vínculo empregatício formalizado (e que portanto contribuem para a Previdência Social e contam com maiores garantias legais). As causas desse processo de "reformalização" não estão suficientemente esclarecidas, mas a ação fiscalizadora do Ministério do Trabalho parece ter um papel.
Não se pode deixar de mencionar, por fim, a questão das condições de trabalho: como mostrou reportagem desta Folha no domingo, no Brasil ainda hoje se observam situações em que o processo laboral se desenvolve de maneira incompatível com a saúde e a dignidade humanas.


Próximo Texto: Editoriais: Fidelidade imposta

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.