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Avanços tímidos
A taxa de desemprego tem registrado queda descontínua e lenta, apesar da moderada expansão da economia
O FERIADO do Dia do Trabalho, que se comemora hoje, é uma ocasião
propícia para discutir
os temas do emprego e do rendimento dos trabalhadores.
Desde 2005, muito embora a
economia tenha se mantido em
moderada expansão, a taxa de
desemprego tem tido redução
descontínua e bastante lenta. Os
novos dados relativos ao PIB, divulgados pelo IBGE há algumas
semanas, revelaram que nos últimos anos o crescimento da economia foi um pouco maior do
que se avaliava, mas isso em nada
alterou as informações sobre o
mercado de trabalho.
Nesse particular, o que a nova
série de dados do PIB suscitou
foi uma constatação inquietante:
a elevação de um ponto percentual do produto se traduziu num
volume de criação de empregos
ainda menor do que se estimava.
As pesquisas disponíveis trazem mais informações, e mais
atualizadas, sobre a situação do
mercado de trabalho nas maiores metrópoles do país. Nessas
regiões, o tempo médio que um
trabalhador desempregado leva
para encontrar uma nova ocupação continua muito longo -quase um ano- e prossegue especialmente alta a incidência da
desocupação entre os jovens, fatores que contribuem para um
ambiente em que a criminalidade viceja e se apresenta como alternativa de vida. Os programas
oficiais voltados a atacar essa
questão estão longe de se revelar
eficazes e suficientes.
A evolução recente do nível
dos rendimentos dos trabalhadores tem sido positiva, graças,
em boa medida, ao recuo da inflação observado desde 2003.
Ainda assim, ressalvas se fazem
necessárias. Uma primeira é que,
dado o nível baixo já atingido pela inflação, o espaço para recuos
adicionais é pequeno, o que limita o fôlego futuro desse mecanismo de recomposição do poder de
compra dos trabalhadores.
Outra ressalva diz respeito ao
fato de que, segundo algumas estimativas, em média a remuneração do trabalho nas faixas de
renda mais alta ainda se situa
abaixo do nível vigente em 1998.
Assim, um dos componentes da
discreta melhora da distribuição
de renda nos últimos anos, captada por alguns levantamentos, é
o empobrecimento da classe média, o que configura um indesejável nivelamento "por baixo".
Aspecto em que tem havido
avanço é o da formalização das
relações de trabalho. Em contraste com o que se observou na
década de 90, nos anos recentes
tem aumentado a participação,
no universo dos trabalhadores
ocupados, daqueles que têm vínculo empregatício formalizado
(e que portanto contribuem para
a Previdência Social e contam
com maiores garantias legais).
As causas desse processo de "reformalização" não estão suficientemente esclarecidas, mas a
ação fiscalizadora do Ministério
do Trabalho parece ter um papel.
Não se pode deixar de mencionar, por fim, a questão das condições de trabalho: como mostrou
reportagem desta Folha no domingo, no Brasil ainda hoje se
observam situações em que o
processo laboral se desenvolve
de maneira incompatível com a
saúde e a dignidade humanas.
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