São Paulo, Sábado, 01 de Maio de 1999
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SOS AUTOMOTIVO

O setor automobilístico foi uma das bases do salto desenvolvimentista no final dos anos 50. Era o período em que se martelava o slogan "50 anos em 5". Agora, quase 50 anos depois, o setor enfrenta uma crise mundial e, no Brasil, pressiona os governos federal e estaduais a fim de ampliar o leque de benefícios oficiais. A inovação mais recente é usar o dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para financiar a compra de automóveis novos. O governo já fala em R$ 600 milhões.
Assim como já ocorreu com outras tantas políticas setoriais, todas sempre bem-intencionadas, o que ocorre agora com o regime automotivo brasileiro é uma superposição de benefícios, exceções e créditos de consistência duvidosa, para dizer o menos.
Há medidas de longo prazo, supostamente vinculadas a metas de exportação e investimento. Mas também acordos de curto prazo, com redução de impostos com o objetivo de vender mais carros, além de evitar mais demissões.
Governos estaduais assumem compromissos com montadoras. No caso do Rio Grande do Sul, o governo entendeu não ter como sustentá-los.
Se não houver uma consolidação de diretrizes, no âmbito de uma política industrial mais ampla, o setor automobilístico poderá simplesmente alongar a série nada brilhante de políticas casuístas conduzidas de modo errático, do álcool à informática, passando pelos esquemas grandiosos de desenvolvimento agrícola ou descentralização da indústria.
Na prática, pode valer mais a ação dos lobbies setoriais, aliada ao oportunismo de governantes que desejam criar empregos. Mas faltam estudos circunstanciados, objetivos, que mostrem os custos e os benefícios das propostas industrializantes.
No setor automobilístico, é preciso ter claro que se trata de uma indústria cuja tecnologia já não é das mais intensivas em mão-de-obra e que passa por uma crise global.
Parece ousadia imprópria, se não proposta irresponsável, esperar do fragilizado governo brasileiro um SOS automotivo.


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