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É tempo de conversão
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
A vida nova que Jesus Cristo ressuscitado nos comunica inclui sempre o
esforço de nossa parte para vencer o
pecado e cumprir o mandamento do
amor.
Há dois desafios que todos temos
que enfrentar em busca de uma convivência fraterna. Trata-se do ambiente
cada vez mais violento em que vivemos e da insensibilidade diante das
desigualdades e das injustiças sociais.
Com efeito, nosso povo sofre o aumento cotidiano da violência exacerbada pelos programas de televisão.
Basta verificar o número de assaltos,
sequestros, conflitos de quadrilhas e o
tiroteio perdido nas madrugadas. A
população sente-se insegura. Infelizmente, a violência penetra entre os jovens. Quem não se apavora com a insanidade do assassinato brutal dos
alunos na escola de Littleton, no Colorado? Entre nós, permanece a dor
diante da maldade perpetrada por jovens contra o índio Galdino. Nos
campos de futebol, os torcedores se
agridem.
Continuam as execuções sumárias e
impunes por parte da polícia. Cadeias
e delegacias são cenários de maus tratos, torturas e lutas internas que não
raro terminam em morte. Acrescentemos o abuso sexual das crianças, a
prostituição juvenil e toda violência
cometida no lar, fruto muitas vezes do
álcool e do uso das drogas.
O segundo desafio para todos é a
apatia e a omissão diante da miséria,
fruto das injustiças sociais. A falta é
maior nas comunidades cristãs por
causa do preceito da caridade, prioritário para os discípulos de Jesus.
A consciência fica ofuscada. Não
percebe mais o sofrimento do desemprego, da fome e das enfermidades
que pesa sobre o próximo. O egoísmo,
aliado à acumulação doentia de bens
na classe mais abastada e à cultura do
consumismo que pervade a classe média, impede a percepção da extrema
pobreza de milhões de irmãos.
Como redescobrir e respeitar a dignidade de toda pessoa? Como firmar
as pilastras da nova sociedade sem
violência e marcada pela solidariedade fraterna?
É necessário reconhecer que o enfraquecimento da fé em Deus leva, aos
poucos, a perder o horizonte da transcendência, a supervalorizar o próprio
eu e a considerar os demais seres humanos como objetos descartáveis. Se
nem sempre se descamba numa agressão direta ao semelhante, vai-se contudo abandonando o referencial ético.
Segue-se a desorientação nos julgamentos morais em relação ao valor da
pessoa humana no seio materno, nas
questões de eutanásia e ainda nas graves manipulações genéticas, como se
tudo o que é cientificamente possível
fosse eticamente permitido.
A sociedade que elimina sem escrúpulos pelo aborto uma criança inocente e indefesa também é capaz de
apoiar chacinas, ações de limpeza étnica e bombardeios intimidadores.
A conversão que o Evangelho proclama faz-nos voltar o coração para
Deus e descobrir o valor da vida humana por Ele amada e criada.
Esse valor ganha em intensidade à
luz da entrega de Cristo à morte para
nos resgatar do pecado e oferecer a
salvação a cada pessoa humana.
Quem ama a Deus aprende a respeitar e a promover a vida dos que são
filhos seus e irmãos nossos. É isto que
há de pôr freio a toda violência e tornar possível a partilha fraterna e a edificação da sociedade solidária.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados
nesta coluna.
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