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A estratégia de Francisco Lopes de manter silêncio prejudicou a CPI?
NÃO
Competência reforçada
JOSÉ ROBERTO ARRUDA
Antes de mais nada, é preciso dizer
que o ex-presidente do Banco Central
Francisco Lopes recebeu ordem de prisão não por se negar a assinar termo de
compromisso de dizer somente a verdade, mas por declarar, por escrito, em
documento entregue à mesa da Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado, que não iria depor, não iria responder a "nenhuma pergunta".
Nesse ponto, o ex-presidente do BC
infringiu claramente o Código Penal.
Ele foi recebido com respeito e com a
presunção de inocência. Deporia como
testemunha. A seus advogados foi garantido lugar próximo ao depoente e
total liberdade de assistência, negando-se-lhes apenas a palavra em lugar
do depoente, como diz a lei.
Como ex-diretor e ex-presidente do
Banco Central, ele poderia contribuir, e
muito, para o perfeito esclarecimento
das operações do BC com os bancos
Marka e FonteCindam.
Quando Francisco Lopes não quis
usar o espaço que, como testemunha,
ainda que suspeita, ele teria para dar
explicações e, é claro, se defender, ele já
passou a indiciado num processo penal. Partindo do princípio de que ele
próprio escolheu esse caminho, submetido a uma estratégia de defesa dos
seus advogados, nada mais se poderia
esperar dele.
Daí porque lamento sua postura, mas
reconheço que já não mais poderíamos
contar com suas contribuições no esclarecimento dos fatos. O silêncio de
quem prefere ser indiciado a ser testemunha não faz diferença.
A CPI dos Bancos não dispõe apenas
dos depoimentos, mas também das
provas e de outras formas de investigação, inclusive contando com o auxílio
da Polícia Federal e do Ministério Público para chegar à verdade dos fatos. O
lado público das CPIs, que chama mais
a atenção, muitas vezes não é o mais
importante.
O trabalho de pesquisas nos bastidores e de análise das provas documentais
normalmente é o caminho mais rápido
entre a investigação e o seu objeto, a
verdade.
O que lamento é que um cidadão que
foi investido de autoridade pública, na
área monetária, por mais de cinco anos
não tenha assumido a sua responsabilidade de esclarecer todos os seus atos.
Esse é um dever inerente a todo agente público, mesmo depois de ter deixado os cargos que ocupou.
Enganam-se, no entanto, os que consideram que com um ardil jurídico vão
impedir as investigações. Ninguém
consegue tapar o sol com a peneira. Vivemos num Estado democrático.
A verdade virá, por inteiro. E, estou
certo, virá de forma a aprimorar o papel do Estado, corrigindo seus eventuais erros e punindo eventuais comportamentos incorretos.
E virá na medida exata para que se
arrependam aqueles que ainda acreditam que há estratégias, por mais ardilosas que sejam, capazes de desrespeitar
o Congresso Nacional e a opinião pública, na construção de uma linha de
defesa.
A CPI dos Bancos decidiu reconvocar
Francisco Lopes. Pessoalmente, fui
contra. Não daria a ele uma nova chance de defesa neste fórum.
Mas, depois da decisão do Supremo
Tribunal Federal, quis a CPI reforçar
publicamente a sua inquestionável
competência. Francisco Lopes virá,
ainda que pela força policial. Terá o direito de não responder às perguntas
que o possam incriminar. Mas virá. Fica o exemplo.
José Roberto Arruda, 45, é senador pelo PSDB-DF e
presidente em exercício da CPI dos Bancos.
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