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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Padre Henrique Vaz S.J.
(1921 - 2002)
Logo que fiquei sabendo de sua
operação, pedi a Deus por esse caro irmão e amigo e desejava fazer-lhe
uma visita no hospital, embora rápida, para não cansá-lo. Qual não foi a
surpresa de todos nós ao recebermos a
notícia de que, no dia 23/5, Deus acabava de chamá-lo, aos 80 anos, para o
prêmio de uma vida exemplar de dedicação a Jesus Cristo e serviço aos irmãos.
Padre Henrique Cláudio de Lima
Vaz nasceu em Ouro Preto, em 24/8/
1921. Estudou no colégio Arnaldo, em
Belo Horizonte. Aos 16 anos, ingressou no noviciado da Companhia de
Jesus. Revelou, desde a infância, profunda sede da verdade, amor a Cristo e
a Nossa Senhora e desejo de se consagrar totalmente a Deus, como seu irmão, dom José Carlos, jesuíta e bispo
de Petrópolis, atestou na comovente
homilia da missa exequial.
Formado em teologia e ordenado
sacerdote em Roma (15/7/1948), obteve com brilhantismo o doutorado em
filosofia pela Universidade Gregoriana. De volta ao Brasil, entregou sua vida ao serviço de Deus no estudo e na
formação de jovens religiosos, estendendo o seu magistério a várias universidades.
Permita-me, caro padre Henrique
Vaz, hoje na "Casa do Pai", dizer-lhe
todo afeto e profunda admiração que
lhe dedico. Lembro-me do dia em que
assumiu as aulas, em 1952, na Casa de
Formação dos Jesuítas em Nova Friburgo (RJ).
Unia excelente preparação filosófica
ao desejo de ajudar os alunos a descobrir o fascínio da verdade e o método
rigoroso do trabalho intelectual. Suas
aulas nos encantavam. Ficamos cativos de sua paciência e de sua bondade
com os jovens seminaristas, distantes
da acuidade de seu pensamento e da
riqueza de sua erudição. O domínio
da língua grega assegurava-lhe a familiaridade com Platão e com Aristóteles. Tornou-se um especialista em filosofia tomista e medieval. Com denodo
e argúcia, penetrou no pensamento de
Hegel e dos autores modernos e contemporâneos. Soube, em nossos dias,
propor com coragem intelectual o humanismo teocêntrico e o itinerário do
espírito para Deus.
Meu caro padre Vaz, na sua pessoa
transparecia a beleza do diálogo interior com Deus na intensa vida de oração silenciosa. A contemplação se
abria para a conversa amiga e para a
profundidade mística com o Mestre
do Amor e da Verdade. Os anos passaram na busca constante da sabedoria
no magistério e na publicação de livros e artigos que formam hoje a melhor contribuição de um filósofo brasileiro nos campos da metafísica, da
antropologia e da ética.
Seus méritos tornaram-se ainda
mais relevantes pela capacidade de inserir-se no seu tempo e de compreender a complexidade dos sistemas, os
embates políticos, a angústia e as justas aspirações da juventude. Homem
de Deus, nos anos difíceis do governo
militar, soube -sem medo- defender a liberdade e sustentar a fé dos que
eram perseguidos. Encontrava tempo
para visitar os enfermos e idosos e para ouvir e orientar com ternura as pessoas que o procuravam. Vejo o seu
sorriso afável, discreto e acolhedor e o
seu olhar, que transmite a paz de
quem em toda a vida busca somente a
Deus.
Hoje, alegro-me vendo-o feliz, contemplando, na plena luz, Aquele que
sempre amou.
Obrigado, padre Henrique, pela sua
vida. É mensagem de esperança. Faz-nos bem, em tempos obscuros e de
atrofia do pensamento, agradecer a
Deus o exemplo desse irmão, que,
com harmonia, conjugou razão e fé,
sabedoria e virtude, simplicidade, despretensão e solicitude fraterna.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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