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CARLOS HEITOR CONY
E vamos nessa
RIO DE JANEIRO - A decisão do
Supremo sobre pesquisas com embriões mantém a Lei de Biossegurança e está sendo encarada como
um passo importante para a ciência. Não serei eu que ficarei à beira
do cais do Restelo amaldiçoando as
caravelas que partiam com o grande
Vasco em busca de novos caminhos
para a humanidade.
Mas faço parte daqueles que, como alguns ministros do STF, mesmo votando a favor das pesquisas,
fizeram algumas restrições. Nada
entendo de genética, mas entendo o
pessimismo que não leva a nada,
mas sempre acende dentro de nós
aquela luzinha vermelha de que alguma coisa pode ser inútil ou dar
errado.
Lembro um debate na Câmara
Municipal ao tempo em que o Rio
era ainda Distrito Federal. Na tribuna, um vereador, Manuel Blasques, dono de uma rede de lojas de
ferragens, fazia um discurso sobre
não lembro mais o quê. O vereador
R. Magalhães Jr., um intelectual,
acadêmico, aparteou-o com alguma
ferocidade, classificando o orador
de "taylorista".
Manuel Blasques estancou.
Olhou para cima, para os lados, para
dentro de si mesmo, e com voz pausada, educadíssima, respondeu:
"Vossa Excelência me chama de alguma coisa que não entendo. Se isso
é um elogio, eu agradeço e retribuo.
Se é uma ofensa, fique sabendo que
isso é a mãe de Vossa Excelência!".
Penso sempre nesta sábia resposta do Manuel Blasques quando não
estou muito seguro das coisas -o
que é freqüente e, no meu caso, bastante antigo. Penso nos aviões se
houvesse lei proibindo as tentativas
dos pioneiros. Leonardo foi quase
condenado por dissecar corpos para compreender a anatomia que o
tornou o maior escultor da história.
Não ficarei como o velho do cais
do Restelo, amaldiçoando aquele
que colocou uma vela num frágil
lenho.
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