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RUY CASTRO
Fim das superestrelas
RIO DE JANEIRO - Enquanto
Michael Jackson não for enterrado,
seu velório não terá fim. Cogita-se
agora outra morte: a das superestrelas como ele. Analistas garantem
que, com a pulverização dos meios
pelos quais se pode consumir música hoje, não será mais possível alguém concentrar tal popularidade
que permita vender 100 milhões de
um único disco, como "Thriller", e
passar 31 semanas no topo da lista
da "Billboard".
Por um lado, isso é bom. Tamanha concentração de poder, renda,
sucesso ou do que for, acaba sendo
nociva para o universo a que se pertence. Vide o cinema. Em 1977, com
"Guerra nas Estrelas", Hollywood
inventou o blockbuster, uma mistura de hiperespetáculo com promoção maciça e lançamento mundial simultâneo em 2.000 cinemas.
E daí? Daí que, enquanto milhões
assistiam à "Guerra nas Estrelas",
outros filmes, não tão mega, mas
melhores, ficaram às moscas.
Ninguém mais quis produzir filmes médios, e "Guerra nas Estrelas" gerou uma quantidade de carbonos inúteis. O mesmo aconteceu
com "Caçadores da Arca Perdida",
"E.T." e os outros blockbusters de
Steven Spielberg -cada vez menos
filmes passaram a render mais dinheiro. Com isso, menos gente trabalhando, criando ou renovando.
No teatro americano idem. Musicais como "Cats", "O Fantasma da
Ópera" ou "Miss Saigon" ficaram
décadas em cartaz na Broadway, cada qual empatando um teatro, sustentados pelas manadas que os ônibus de turistas despejavam às suas
portas. Quantas novas peças nunca
foram encenadas porque não havia
teatros para elas em Nova York?
Hoje, como se pode ouvir música
por toda espécie de canais, ficou
mais difícil à máquina impor o seu
mau gosto à macacada. Para muitos, já é possível selecionar o seu
próprio repertório, ficar surdo para
o resto e ser feliz para sempre.
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