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ENGATE GLOBAL
A presença de dois economistas de renome internacional no
Brasil, na semana passada, mostrou
que, para as principais questões externas, ainda não há consenso.
Albert Fishlow, brasilianista ouvido no governo FHC, e Joseph Stiglitz, Nobel de economia crítico do
FMI e ouvido pelo ministro Palocci,
participaram de debate no jornal
"Valor". O desacordo é total na questão crucial: deixar ou não o FMI. Fishlow recomenda a renovação do
acordo. Stiglitz prega o abandono da
muleta controlada por Washington.
A questão é crucial para definir se o
governo Lula vai tentar mudar o modelo econômico. Passada a crise de
confiança, o longo prazo dependerá
muito do ajuste externo a que se submeterá a economia brasileira.
Por coincidência, esse dilema estratégico para o país ocorre no mesmo momento em que a OMC (Organização Mundial do Comércio) mobiliza os governos para mais uma
tentativa de liberalização global. Os
ministros de Comércio se reunirão
em Cancún na semana que vem.
Também nesse campo há decisões
estratégicas a tomar. Stiglitz alerta
para a irracionalidade da política
econômica do governo Bush. E recomenda ao governo um ceticismo
agressivo diante das promessas de liberalização comercial entoadas pelos governos dos países ricos.
Assim como falharam as propostas de liberalização financeira, também têm sido pífios os resultados da
rodada multilateral de negociação
comercial nos últimos anos.
A conjuntura econômica e financeira global continua difícil: apesar
dos sinais de recuperação nos EUA, a
União Européia continua fragilizada
e a Ásia depende fortemente do mercado consumidor norte-americano.
O país que é "dono do mundo" por
supremacia militar impera também
no campo econômico e comercial.
O engate global da economia brasileira depende do "mix" de decisões
estratégicas no campo das finanças e
do comércio. O governo Lula promete políticas industriais e alinha setores prioritários, mas o sentido do seu projeto surgirá apenas na medida em
que se cristalizarem suas opções
frente os EUA, ao FMI e à OMC.
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