São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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EXPANSÃO E RISCOS

O ritmo de expansão da economia brasileira no segundo trimestre deste ano superou a maioria das previsões. O Produto Interno Bruto (PIB) fechou o semestre em nível 4,2% superior ao observado em igual período de 2003.
Sem dúvida alvissareira, uma recuperação da atividade econômica com essa intensidade tem um precedente próximo: no primeiro semestre do ano 2000, o PIB brasileiro exibiu alta similar, de 4,7%. As semelhanças entre os dois períodos vão além: na primeira metade de 2000, assim como na primeira metade de 2004, o desempenho da economia esteve condicionado pelo fato de no ano anterior ter-se verificado marcante contração do mercado interno e expressiva expansão das exportações -ambos movimentos influenciados por "saltos" da cotação do dólar (no início de 1999 e no final de 2002) e por repiques significativos mas transitórios da inflação.
Logo, não é a primeira vez que se observa a economia brasileira alcançar esse ritmo de expansão ao recuperar-se do "trauma" provocado por uma maxidesvalorização cambial. A principal questão que se coloca diz respeito à possibilidade de sustentação do crescimento.
Todos sabem que a expansão de 2000 foi mutilada, em 2001, pela falta de energia elétrica, e revertida nos dois anos seguintes pela vulnerabilidade das contas externas. Quanto a isso, a perspectiva de sustentação do crescimento, hoje, é menos incerta. Graças às chuvas e à racionalização do consumo, o risco de falta de energia foi postergado. E, graças à alta muito forte das exportações, as contas externas encontram-se em posição muito mais sólida.
Isso, no entanto, não chega a isentar a expansão da economia de riscos, embora menos agudos. O mais evidente é o de que as autoridades subestimem o caráter incipiente da recuperação e, sobretudo, a necessidade de estimular uma reação mais forte do investimento -que se mantém há mais de duas décadas deprimido, limitando o potencial de crescimento da economia. Por isso uma elevação da taxa de juros básica, que novamente vem sendo aventada em nome de metas muito ambiciosas de redução da inflação, seria indesejável.


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