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Mais atropelo
Na pressa de criar novo oligopólio de teles, governo ataca proposta de mais transparência e competição no setor
JÁ FAZEM parte da rotina episódios de atropelo e desdém
pelo marco regulatório nas
telecomunicações. Agora o
ministro das Comunicações, Hélio Costa, se insurge contra a proposta da Anatel que obriga a separação dos serviços de banda
larga e de telefonia fixa, concebida para assegurar mais competição no setor.
Pela regra sugerida, as teles
precisariam criar uma companhia separada para fornecer a conexão rápida com a rede de computadores. Oi/Telemar, Brasil
Telecom e Telefônica são contra.
O tema é sensível, porque envolve uma fronteira de crescimento
estratégica para o setor.
A investida do Executivo se soma a outra operação que subverte o modelo responsável pelo sucesso da privatização da telefonia no Brasil: a iniciativa, endossada e financiada pelo Planalto,
que permitirá a fusão entre a
Oi/Telemar e a Brasil Telecom,
um negócio de R$ 12 bilhões. O
desenho atual, de 1997, previu a
separação em benefício do consumidor, evitando concentração.
Sobre a banda larga há ao menos dois problemas. Primeiro, as
teles podem se beneficiar da infra-estrutura que detêm para
prejudicar concorrentes -criar
dificuldades técnicas ou conceder descontos que inibam o
avanço de outras empresas. Com
a separação, diz a Anatel, haveria
transparência nos custos.
Segundo, há uma questão de
competência. Ainda que a palavra final sobre a reforma do modelo do setor seja do governo, cabe à agência propor as regras do
novo Plano Geral de Outorgas
(PGO), nos limites da Lei Geral
de Telecomunicações. Pelo protocolo, a proposta do novo PGO
precisa ser submetida a consulta
pública, para aperfeiçoamento,
antes de ser enviada para a aprovação do presidente da República. É nesse estágio de consulta
pública que o Ministério das Comunicações está intervindo, em
comunhão com o interesse das
três grandes companhias.
As implicações para o consumidor podem ser constatadas na
prática. Onde há competição, os
preços para o usuário são menores. Concorrentes locais, contudo, reclamam da dificuldade
criada pelas concessionárias para obter acesso à infra-estrutura
necessária para o fornecimento
de banda larga.
Os argumentos do ministro
Hélio Costa são abertamente favoráveis a um modelo oligopolista. Segundo ele, a separação na
banda larga deixaria a nova supertele "travada" e "impossibilitada de competir no país". Ele
também afirmou que "precisamos ter empresas modernas, capazes de trabalhar numa nova visão da comunicação no mundo".
Sim, mas a questão é saber se a
concentração é o pressuposto
necessário para essa qualificação
-a realidade prova exatamente o
contrário- e, principalmente,
quem vai pagar a conta.
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