São Paulo, sábado, 01 de outubro de 2011

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Editoriais

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Acúmulo de sujeira

Custa acreditar que o governo do Estado de São Paulo tenha levado dez anos para chegar à conclusão de que o sistema de despoluição do rio Pinheiros não funciona.
O método de flotação é conhecido há mais de meio século. Consiste em agregar as moléculas de poluição por meio de produtos coagulantes e, com a injeção de microbolhas de oxigênio, levá-las à superfície, para então retirar os blocos de sujeira. Até então, nunca havia sido usado em um rio do porte do Pinheiros -mas, sim, em tratamento de esgoto, despoluição de lagos e em mineração.
Quando a solução foi anunciada, lá se vão mais de dez anos, estava cristalino, portanto, o seu ineditismo. O governo paulista, todavia, levou seis anos para fazer o básico: apenas em 2007, após acordo na Justiça com a Promotoria, decidiu testar a flotação num trecho menor do rio para verificar sua efetividade e aí decidir se valia a pena usar o método ao longo de toda a extensão de 25 km.
Os testes, concluídos no ano passado, mostraram que o sistema era ineficaz. Foram gastos R$ 160 milhões, mas o prejuízo poderia ter sido maior, uma vez que a aplicação do projeto no rio todo estava orçada em R$ 350 milhões.
Programas de despoluição dos rios paulistanos, como o Pinheiros e o Tietê, estão em curso há pelo menos duas décadas, sem resultados satisfatórios. De locais de lazer e embelezamento da cidade nas primeiras décadas do século 20, se tornaram verdadeiros esgotos a céu aberto, a atestar a degradação da cidade mais rica do país.
O secretário estadual de Energia, José Aníbal, disse que o montante investido na flotação -R$ 80 milhões do governo de São Paulo e a mesma quantia da Petrobras- "não se perde", pois "se acumulou muito conhecimento".
Acumulam-se, na verdade, os sinais de incapacidade do governo de São Paulo de lidar com o problema da poluição dos rios.
Todos os dias, toneladas de esgoto são despejadas no Pinheiros e em outros rios. E o problema não se restringe a moradias de baixa renda -até o Panamby, um bairro de classe média alta, joga seus dejetos diretamente no rio.
Projetos de limpeza que não prevejam tratamento de todo o esgoto que chega aos rios paulistanos não passam de paliativos, sem nenhuma chance de êxito.


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