São Paulo, sábado, 01 de outubro de 2011

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RUY CASTRO

Menos um

RIO DE JANEIRO - Outro dia, um amigo me disse que levaria para o túmulo uma chaga impossível de cicatrizar: a de, por estar fora do Rio ou fora de si (ele não se lembra), ter perdido o show dos Rolling Stones na praia de Copacabana, em fevereiro de 2006. Aquele que reuniu 1,3 milhão de pessoas, para a polícia, ou 2 milhões, para os organizadores, e que, dizem, foi a maior multidão num espetáculo de rock.
Precisei me refrear para não lhe contar que, embora não tenha assistido ao show, fui um daqueles 1,3 milhão ou 2 milhões em Copacabana, e que isso não me alterou a mínima -exceto tornar-me desconfiado desses números que as pessoas apresentam segundo suas conveniências. Afinal, quem conta -e como?
Eu sei, os observadores estabelecem a metragem do cenário, calculam sete pessoas por metro quadrado e tiram um número para a posteridade. Mas isso não é uma ciência exata. E se houver crianças montadas em garupas? E os obesos que ocupam, cada um, um metro quadrado?
Lembro-me de ter ido do Leblon a Copacabana, a pé, pela orla, naquele dia. Às duas da tarde, havia muita gente na praia, mas concentrada diante do Copacabana Palace, onde ficava o palco. Prossegui até o Leme e, pelas seis horas, passei de volta pelo palco. A turba dobrara de tamanho, mas já ia ficando rala ali pelo posto 5. Fui embora. Mais tarde, em casa, espiando de relance pela TV, ficou claro que os fãs dos Rolling Stones nem de longe ocupavam a areia e a rua como fazem os de Iemanjá que, todo Réveillon, tomam Copacabana de ponta a ponta, do Leme ao posto 6.
E, ah, sim. Se os propalados 1,3 milhão ou 2 milhões incluem os que apenas flanaram pela praia em algum momento do dia, rogo em nome do rigor histórico que cancelem minha presença. Não assisti ao show. Portanto, é 1,3 milhão ou 2 milhões menos um.


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