São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2008

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Editoriais

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Crédito bloqueado


Mercados globais voltam aos poucos a funcionar; no Brasil, no entanto, os bancos ainda relutam em emprestar recursos

NA ÚLTIMA semana, as gigantescas operações de resgate financeiro começaram a surtir efeito. Os investidores internacionais finalmente mostraram sinais de menor aversão ao risco. Começou a ficar evidente, no entanto, a desaceleração mais aguda na atividade econômica.
Nos EUA, o PIB registrou queda de 0,3%, por conta da contração nos gastos das famílias. As despesas em bens de consumo duráveis caíram 14,1%. Nos investimentos residenciais, a queda foi de 19,1%.
O governo japonês, diante de uma retração previsível, apresentou um pacote de estímulo de US$ 277 bilhões. O plano envolve corte de impostos, benefícios aos consumidores e garantias de empréstimos para pequenos negócios. Na Europa, os indicadores antecedentes, que sinalizam a disponibilidade de gastos de empresas e consumidores, apresentaram índices bem negativos.
No Brasil, para fazer frente à crise de crédito, a autoridade monetária reduziu os depósitos compulsórios, parcela que os bancos são obrigados a manter no Banco Central. Esperava-se que as grandes instituições bancárias utilizassem os recursos para adquirir carteiras de empréstimos de bancos menores ou que expandissem suas operações de empréstimos.
O resultado foi frustrante. Os grandes bancos resistiram a ampliar a circulação do dinheiro, inclusive dos recursos provenientes dos depósitos compulsórios. Optaram por deixar seus recursos nos cofres do Banco Central. Os dados da Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto (Andima) corroboram essa hipótese. Na quinta-feira, o Banco Central enxugou R$ 247 bilhões do mercado.
Como conseqüência, cresceu o risco de inadimplência. Esse cenário foi criado, em grande medida, pela própria restrição ao crédito. Além disso, são aguardadas quedas nas receitas devido à retração econômica.
Corretamente, o Banco Central agiu e alterou as regras. Determinou que só 30% do compulsório sobre depósitos a prazo poderá ser recolhido por meio de títulos públicos. O restante terá que ser depositado em dinheiro, sem remuneração. Com a medida, espera-se que as instituições financeiras utilizem os recursos para comprar carteiras de outras instituições de menor porte.
Não há garantias de que a ação seja bem-sucedida. O risco é os bancos aumentarem os juros para seus clientes, repassando os prejuízos. Nesse caso, novas ações serão necessárias para estimular a retomada do crédito e a compra de carteiras.
A Europa pode apontar novamente a solução. A exemplo do que ocorre na região, o Banco Central poderia garantir as operações interbancárias. Outra decisão para facilitar a expansão do capital de giro para as empresas seria operar nos mercados de nota promissória e debêntures, como o Fed começou a fazer.
As autoridades econômicas não devem hesitar em aumentar a pressão sobre os bancos se a situação exigir. Todos os instrumentos para desobstruir os canais de crédito, vitais para a economia, devem ser considerados.


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