São Paulo, sexta-feira, 02 de janeiro de 2004

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CLAUDIA ANTUNES

A cidade vai bem, o povo...

RIO DE JANEIRO - Seria injusto dizer que é fácil administrar a cidade do Rio de Janeiro, mas os 61% de aprovação alcançados por Cesar Maia na pesquisa Datafolha que avaliou nove prefeitos de capitais têm razões histórico-culturais que vão além dos méritos do alcaide carioca.
Passados quase 30 anos da lei que determinou a fusão da Guanabara com o Estado do Rio, a metrópole de quase 6 milhões de habitantes, 41% do total fluminense, ainda vive como a cidade-Estado que foi até 1974.
Há um pólo petrolífero no norte fluminense, um centro industrial no sul, bolsões de miséria no noroeste e na Baixada. Mas o que acontece no município do Rio eclipsa todo o resto. Com um detalhe: as áreas que costumam render más notícias para a cidade são de competência estadual, enquanto a paisagem urbana, trunfo inabalável, é da esfera da prefeitura.
O próprio Maia atribui sua boa avaliação à comparação com os governos de Rosinha e Lula, ambos às voltas com verbas escassas, insatisfação do funcionalismo e carências estruturais que se arrastam há anos.
Violência, tráfico de drogas? São problemas do governo do Estado, dos quais a administração municipal se desvia com medidas como a terceirização de serviços públicos nas regiões conflagradas. Chove muito e as línguas negras invadem as praias? A culpa é da Cedae, a companhia estadual de água e esgoto. Também ficam na conta do Estado a imundície persistente da baía de Guanabara e o metrô que não avança.
Gestor orçamentário considerado competente, Maia investe no mobiliário urbano, inicia as obras para o Pan-2007 e corteja a zona oeste, onde costumava ter menos votos. O resultado é que a cidade vai bem, mas a população nem tanto. Quem precisa sabe que os postos de saúde da prefeitura deixam a desejar e que muitas mulheres pobres não conseguem trabalhar por falta de creches onde colocar os filhos pequenos. Não custaria ao prefeito, que se congratula por ter folga de caixa, investir mais em serviços que aparecem menos.



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