RIO DE JANEIRO - Continuo estranhando o programa Fome Zero proposto por Lula, agora em escala mundial. Evidente que ninguém é a favor da fome, e a sua existência, ao longo da história, é uma das vergonhas coletivas da humanidade. Com a tecnologia de que hoje dispomos, é um absurdo que ainda não tenhamos resolvido o problema.
Mas não é pela solidariedade, nem pela caridade, que vamos acabar com a fome. Lembro certos mendigos que, à porta das igrejas, suplicam uma esmola não pelo amor de Deus, mas pelo sangue de Cristo. No fundo, pode ser a mesma coisa, mas o apelo é mais dramático.
Lula é o primeiro a saber que o combate à fome, que deve ser a prioridade do governo de qualquer país onde fome exista, não pode ser resolvido à base de doações. Alemanha, Estados Unidos e até uma modelo top das passarelas estão colaborando com o mutirão. No Ceará, dezenas de toneladas são desperdiçadas, declara o governador local. Numa cidade como São Paulo, o desperdício é cem vezes maior.
Não é por aí, senhores membros do conselho. Fome se combate com desenvolvimento. O Brasil teve a população aumentada em alguns milhões, mas o desenvolvimento empacou, sobretudo nos oito anos de governo FHC. Natural que a fome tenha aumentado.
Qualquer pessoa de bom senso sabe que a fome só será resolvida se tivermos produção, distribuição e consumo. Sem reforma agrária para valer, a produção será deficiente. Sem distribuição, o pouco que é produzido não chega aos consumidores. E, sem dinheiro no bolso, o consumidor não pode comprar o que sobra da produção insuficiente e da distribuição precária.
Realmente, não compreendo como Lula e o PT embarquem nessa canoa furada. Tanto o presidente como o partido têm a faca e o queijo para retomar o desenvolvimento, deixando o sangue de Cristo para a remissão de nossos pecados.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Agora ou nunca
Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes - Petróleo: um rei todo-poderoso
Índice