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GUSTAVO PATÚ
O pau vai comer?
BRASÍLIA - A universidade pública é um grupo de pressão poderoso, ideológico e em mobilização permanente.
Considera que a defesa de sua causa,
sem dúvida respeitável, equivale à
defesa da educação. Obsoleta, ainda
é ilha de excelência no panorama
brasileiro. Trata o ensino privado,
onde estão 70% dos universitários do
país, como um mal decorrente da crise do Estado. Essa visão norteou o
programa do PT e a gestão militante
de Cristovam Buarque no MEC.
Quando decidiu pôr na pauta pública a reforma universitária, dois
meses atrás, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, cometeu uma frase infeliz
-"O pau vai comer"- e uma incompreensível -"Infelizmente, não
posso falar o que penso".
Mas foi relevante, na ocasião, ao
comparar a tarefa à reforma previdenciária, maior êxito de Lula até
aqui. Na Previdência, o governo assumiu o abandono do histórico petista, elaborou rapidamente um projeto, enquadrou aliados, negociou com
a oposição e atingiu sua meta. Para
tanto, jogou fora as infrutíferas discussões "com a sociedade" no Conselhão, então comandado pelo hoje ministro da Educação, Tarso Genro.
Ainda não se vê coisa parecida na
reforma universitária. Tarso fala numa "constituinte" sobre o tema, em
ouvir todo mundo para concluir um
projeto -até o fim do ano, diz.
Pode-se adiantar o que ele vai ouvir. As universidades públicas querem, além de muito mais recursos,
autonomia para gerir o dinheiro, estabelecer planos de carreira, criar
cursos e fixar currículos. Já a visão
econômica, também poderosa e ideológica, questiona o alto custo por aluno no Brasil, cobra mecanismos de
avaliação de desempenho mais efetivos, aponta que o gasto público com o
ensino superior privilegia a elite e sugere alternativas como a cobrança de
mensalidades e um programa de bolsas para alunos do sistema privado.
Os lados são conhecidos e inconciliáveis. A única opinião incógnita é a
do governo, que ou não tem uma ou
tem medo de revelá-la. Em qualquer
hipótese, não é um bom começo.
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