São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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GUSTAVO PATÚ

O pau vai comer?

BRASÍLIA - A universidade pública é um grupo de pressão poderoso, ideológico e em mobilização permanente. Considera que a defesa de sua causa, sem dúvida respeitável, equivale à defesa da educação. Obsoleta, ainda é ilha de excelência no panorama brasileiro. Trata o ensino privado, onde estão 70% dos universitários do país, como um mal decorrente da crise do Estado. Essa visão norteou o programa do PT e a gestão militante de Cristovam Buarque no MEC.
Quando decidiu pôr na pauta pública a reforma universitária, dois meses atrás, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, cometeu uma frase infeliz -"O pau vai comer"- e uma incompreensível -"Infelizmente, não posso falar o que penso".
Mas foi relevante, na ocasião, ao comparar a tarefa à reforma previdenciária, maior êxito de Lula até aqui. Na Previdência, o governo assumiu o abandono do histórico petista, elaborou rapidamente um projeto, enquadrou aliados, negociou com a oposição e atingiu sua meta. Para tanto, jogou fora as infrutíferas discussões "com a sociedade" no Conselhão, então comandado pelo hoje ministro da Educação, Tarso Genro.
Ainda não se vê coisa parecida na reforma universitária. Tarso fala numa "constituinte" sobre o tema, em ouvir todo mundo para concluir um projeto -até o fim do ano, diz.
Pode-se adiantar o que ele vai ouvir. As universidades públicas querem, além de muito mais recursos, autonomia para gerir o dinheiro, estabelecer planos de carreira, criar cursos e fixar currículos. Já a visão econômica, também poderosa e ideológica, questiona o alto custo por aluno no Brasil, cobra mecanismos de avaliação de desempenho mais efetivos, aponta que o gasto público com o ensino superior privilegia a elite e sugere alternativas como a cobrança de mensalidades e um programa de bolsas para alunos do sistema privado.
Os lados são conhecidos e inconciliáveis. A única opinião incógnita é a do governo, que ou não tem uma ou tem medo de revelá-la. Em qualquer hipótese, não é um bom começo.



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