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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
O caminho agora
O governo do PT condena o Brasil à soma da estagnação com a
desmoralização. Estagnação que pode
ser interrompida por surtos de crescimento, mas que só será substituída
por crescimento duradouro e includente quando houver mudança de
concepção e de estratégia. Desmoralização que nega ao país meios políticos
com que formar e fazer valer a vontade nacional. O que era suposto de
marcar novo começo para o país já virou epílogo da fase mais frustrante de
nossa história moderna.
Temos pela frente quase três anos de
governo encolhido: amedrontado pelos mercados financeiros, pelos credores estrangeiros, pela base partidária,
pela mídia e pelos endinheirados com
que os governantes tiverem negociado
acertos político-empresariais. Falsa é a
tese de que se enfraqueceram as forças
que dentro do governo se preparavam
para reorientar a presidência Lula.
Nunca houve alternativa dentro desse
governo; somente as ansiedades de alguns indivíduos, aferrados ao poder e
confusos nas idéias, que gostariam de
ver os juros baixarem e os investimentos subirem e que não conseguem distinguir entre retórica e pensamento.
O problema maior agora não é com
o governo; é com o país. Se a reação
-sadia e necessária- da classe média se resumir à indignação moral, degenerará, mais uma vez, em moralismo estéril. Enquadrado o governo por
escalada de protestos, haverá mais recato no Palácio. O resto, porém, continuará na mesma. Saída real exige
combinação de três iniciativas.
A primeira parte da saída é aproveitar o movimento em favor do financiamento público das campanhas eleitorais e do voto em listas partidárias.
Quem conhece esse assunto no Brasil
está calado. Quem não conhece está,
de boa-fé, em campanha contra. A experiência internacional é inequívoca,
independentemente do nível de desenvolvimento e de honestidade em
cada país. Os abusos e os custos do novo regime político seriam numerosos.
São insignificantes comparados com
os dois benefícios que aos poucos se
imporiam: desatar vínculos entre o
poder e o dinheiro e criar partidos fortes.
O segundo elemento da saída é insistir na formação do outro ideário. Não
acreditamos no Brasil no poder das
idéias; essa talvez seja a causa mais poderosa de nossa desgraça. O que
adiantam cobranças se não se sabe o
que fazer? Colaborando, em cursos e
escritos, com homens tidos como os
principais executores na América Latina da diretriz que o governo do PT
seguiu, constato que nenhum deles
hoje quer defender a pseudo-ortodoxia conformista -a mistura de idéias
neoliberais e social-democratas- que
virou o discurso geral da política latino-americana. Reconhecem a necessidade de abrir outro caminho. Se ninguém tiver paciência para prestar
atenção ao conteúdo da alternativa,
não haverá alternativa. Ficaremos onde estamos.
O terceiro ingrediente da saída é começar a organizar força social e política para disputar o poder. A reação,
acalentada dentro da classe média,
contra a corrupção é o que excita. Não
é o que fecunda. O momento da virada só ocorrerá quando a antevisão de
outro rumo nacional se associar na
imaginação do país a lideranças que
ganharem visibilidade e credibilidade
no curso da luta que se inicia. Ânimo,
Brasil! Nunca estiveste tão perto de
tua libertação.
Roberto Mangabeira Unger escreve às terças-feiras nesta coluna.
www.law.harvard.edu/unger
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