São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2011

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ANTONIO DELFIM NETTO

Macro

Foi imenso o fracasso da ideia que existiriam "leis" quase naturais que determinariam a melhor forma de organização do sistema econômico e que elas poderiam ser "descobertas" e "exploradas" para sugerir à sociedade como construí-la.
Teve como resultado lamentável a descrença que hoje cobre a economia, pensada como "ciência" pelos economistas que sentem inveja da física. É preciso separar o joio do trigo. Trata-se de voltar à velha e modesta economia política (a criança) e jogar fora a água do banho (a econofísica)...
A discussão metodológica é interminável e a ideológica insuperável! O fundamental é reconhecer: 1º) que na economia política, ao contrário da física, o agente (o átomo) reage, pensa, tem limites éticos fixados em sua cultura, imita o comportamento dos outros, tem memória e escolhe e 2º) que os parâmetros do espaço econômico são instáveis e suas condições estruturais, como consequência do aprendizado e da experiência, modificam-se com imensa velocidade quando comparadas aos do mundo físico.
Para dar um exemplo de como o comportamento dos agentes muda com a experiência, altera o espaço econômico e leva ao envelhecimento precoce da "teoria econômica", lembremos que em setembro de 1997, na sua reunião anual, o FMI garantiu que o livre movimento de capitais era fundamental: 1º) para melhorar a eficiência alocativa e acelerar o desenvolvimento econômico mundial; 2º) para aumentar a oportunidade de diversificação dos portfólios, o que beneficiaria os investidores e 3º) que da mesma forma que a liberdade de comércio, a liberdade do movimento de capitais aumentaria a produtividade da economia e a eficiência do seu sistema financeiro.
E terminou triunfalmente: "Esses não são conceitos abstratos. Sugerem as oportunidades para que todos os países aqui representados possam beneficiar-se do acesso à ampla liberdade de movimento de capitais".
Pois bem, no dia 6 de janeiro de 2011, Caroline Atkinson, diretora do Departamento de Relações Externas do FMI, numa entrevista, em resposta a uma pergunta de como aquela instituição via as medidas de controle do movimento de capitais impostas recentemente pelo Brasil, afirmou: "Vemos essa atitude como medidas macroprudenciais destinadas a fortalecer o sistema bancário do Brasil diante do enorme afluxo de capitais.
Elas podem ser apropriadas e são parte da caixa de ferramentas disponíveis".
Medidas macroprudenciais se destinam à primeira tarefa dos bancos centrais: manter hígido o sistema financeiro.
Podem, sim, subsidiariamente, ajudar no controle da inflação. Ah, o poder de uma palavra! Tudo agora é "macroprudencial".

ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.

contatodelfimnetto@terra.com.br


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