São Paulo, sábado, 02 de abril de 2011 |
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Editoriais editoriais@uol.com.br O público e o privado Dificuldades do Grupo Bertin com termelétricas expõem riscos da intervenção oficial e da promiscuidade entre governo e empresas O Grupo Bertin está com dificuldades de entregar no prazo acordado as usinas termelétricas que se propôs a construir. O cumprimento do calendário oficial de aumento de oferta de energia depende da conclusão dessas usinas. Na falta do Bertin, o governo pode recorrer à Petrobras, empresa de capital aberto, mas na prática apenas uma estatal. O Bertin teve problemas para depositar as garantias financeiras necessárias para a assinatura da concessão de trechos do Rodoanel paulista. Pelo mesmo motivo, desistiu de participar do consórcio que obteve a concessão da hidrelétrica de Belo Monte, formado às pressas, sob patrocínio oficial. O governo tentou ainda contar com o Bertin na formação de um consórcio para disputar o ainda cambaleante projeto do trem-bala. Por meio do BNDES, o governo é sócio do JBS-Bertin, gigante das carnes que o banco estatal de desenvolvimento ajudou a criar. O plano de crescimento e de diversificação do Bertin é da conta de seus acionistas. A empresa foi um frigorífico muito bem-sucedido, que paulatinamente entrou nos setores de construção civil, indústria e energia. Mas, já se vê, a trajetória do grupo também diz muito sobre a história da grande empresa sob governos do PT. O governo Lula patrocinou ou financiou a concentração empresarial nos setores de carnes, petroquímica, celulose e telefonia, por exemplo. Ofereceu sociedade com estatais ou com fundos de pensão que, na prática, controla. Forneceu financiamento, direto ou indireto, mas sempre a bom preço, a tais operações. Várias dessas fusões e aquisições serviram para socorrer empresas em dificuldades, como no caso das firmas avariadas na crise de 2008 devido a má gestão financeira. O governo fez o Banco do Brasil e a CEF comprarem partes de instituições financeiras em dificuldades. Não para aí a intervenção: trabalhou nada discretamente para depor o presidente de uma companhia aberta, a Vale. Em suma, o Planalto decidiu privilegiar a formação de conglomerados e a eles se associou para implementar sua estratégia de investimento em infraestrutura e de política industrial. Pode bem ser que algum incentivo oficial sugira caminhos empresariais de interesse do país. Mas pode bem ser, como de costume, que o governo politize decisões que deveriam ser pautadas apenas pela lógica econômica. Não é improvável que essas associações entre o público e o privado redundem em algo ainda pior que a distorção econômica causada pela intervenção política. Cabe, pois, usar com parcimônia a intervenção oficial. Ao fazê-lo, é preciso evitar o privilégio e dar transparência -enfim, demonstrar claramente o benefício geral da parceria, e não da promiscuidade, público-privada. Próximo Texto: Editoriais: Ciência íntegra Índice | Comunicar Erros |
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