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JOÃO SAYAD
Mistério chinês
A China financia o excesso de
consumo americano. Não deixa a
sua moeda se desvalorizar. Acumulou
reservas de US$ 500 bilhões. Promete
investir parte das reservas no Brasil e
na Argentina. Importa soja, outros
produtos agrícolas e aço, cujos preços
internacionais aumentaram, para a
alegria de todos os países da América
Latina. Embora concorra com a indústria têxtil da América Central e
com as maquiladoras do México.
É a grande novidade da economia
mundial dos últimos dez anos. Exporta produtos que usam mão-de-obra
barata e produtos de alta tecnologia.
Poupa muito. E recebe grandes volumes de investimento direto do estrangeiro.
Há várias formas de contar uma história. Para crianças, a Chapeuzinho
Vermelho. Para a história econômica,
o Oriente é escolhido muitas vezes como protagonista principal: a Idade
Média se inicia quando o islã domina
o Mediterrâneo e fecha o comércio
com o Oriente. O renascimento comercial começa na Europa, com as
viagens de Marco Polo à China. A
América e o Brasil foram descobertos
quando portugueses e espanhóis procuravam caminho para a Índia depois
que Constantinopla caiu na mão dos
otomanos. Em 1974, os árabes aumentaram o preço do petróleo.
O que aprender do sucesso da China? Há quem viaje para longe, atravesse a linha internacional do dia seguinte apenas para descobrir que não há
nada de novo no fim do mundo .
Conclui que a China está crescendo
porque poupa muito (como o médico
que explica que um cliente está engordando porque come muito. Por que
come muito?). Que cresce porque exporta. Por que exporta? Que exporta
porque a mão-de-obra é barata. Mas
por que é barata? Que recebe investimentos diretos porque tem um ambiente de negócios favorável. Apesar
de falarem chinês. Apesar de a lei chinesa não ser nem a "common law" anglo-saxônica nem o direito romano.
Apesar de o governo ser acusado de
práticas pouco democráticas. E apesar
de ser um país comunista.
O sucesso da China pode ser contado de outra forma. O desenvolvimento chinês decorre da perspectiva de
crescimento do mercado interno e da
inclusão de um imenso número de
chineses na economia capitalista. Os
investimentos diretos vão à China
porque a mão-de-obra é barata, porque é disciplinada. Mas também porque há um imenso número de chineses que será integrado ao mercado. O
projeto de desenvolvimento chinês é
projeto nacional (não nacionalista)
-transformar a China em nação
próspera e rica. É nacional ou público
porque interessa e beneficia mais os
chineses todos -o público- do que
os chineses ricos ou os chineses desempregados que procuram trabalho.
Finalmente, a China mostra que desenvolvimento é um processo de desequilíbrio, círculo virtuoso nem estável, nem bem comportado.
Não adianta ir à China e se hospedar
no hotel que serve "caesar salad" e bife
com fritas. Quem viaja com as teorias
de sempre na mala não aprende nada
sobre o lugar para onde foi nem sobre
o lugar de onde veio.
João Sayad escreve às segundas-feiras nesta coluna.
@ - jsayad@attglobal.net
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