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![]() São Paulo, segunda-feira, 02 de junho de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O tempo de acordar JOSÉ CECHIN
Os tempos de acordar são diferentes -alguns acordam tarde, teria
dito o presidente Lula. Vamos saudar o
despertar e apoiar os esforços de mudança. O governo FHC despertou cedo.
Entendeu o desequilíbrio da Previdência, de proporções significativas, aceleradamente crescente, que impunha restrições às finanças públicas, aumentando o endividamento e os juros e inibindo o desenvolvimento. Coube-lhe apresentar proposta abrangente, para o setor público e o privado, que aumentasse
seu conteúdo de justiça social e sua viabilidade. Mudanças importantes, mas
aquém do necessário, foram aprovadas
em 98. Estão produzindo efeitos.
Não é mudança cosmética nem completa. Corta profundamente as expectativas do servidor. Afeta mais aqueles já em final de vida de trabalho. Teria sido mais prudente e humana uma proposta que respeitasse "direitos acumulados" até a data da promulgação, alterando apenas a taxa de acúmulo daí em diante, como era o discurso da campanha. As mudanças invertem o desbalanço entre regimes público e privado. Até 1998, o serviço público atraía profissionais com longo tempo de INSS para trocarem uma aposentadoria com teto por outra de alto valor, do governo. A proposta empurra o pêndulo para o lado oposto. Como as futuras aposentadorias dos dois regimes terão valores semelhantes, servidores serão estimulados a deixar o serviço público para se aposentarem mais cedo pelo INSS, sem redutor. Será esse mais um caso de falha do despertador, com o governo esposando, tardiamente, a tese do consenso de Washington, de Estado mínimo? A elevação do teto do INSS só tem um óbvio argumento a favor: a receita imediata que produz. Os trabalhadores pagam mais, os empregadores não; os aposentados nada ganham; os que se aposentarem só alcançarão o novo teto após 24 (mulheres) ou 28 (homens) anos de contribuição aumentada. O desequilíbrio do INSS aumenta, pois majora benefícios aumentando somente um terço do financiamento, a parte do trabalhador. Está na direção oposta à do ajuste. A promessa de benefício maior é ilusória, pois o trabalhador que pagar sobre o novo teto vai encontrar as finanças mais deterioradas quando chegar sua vez de se aposentar. Têm razão os críticos que apontarem omissões inexplicáveis e a falta de ousadia para propor outras mudanças urgentes. Mas as propostas, mesmo que voluntaristas e sem um princípio unificador maior do que o efeito financeiro, o que torna sua sustentação mais frágil, estão na direção correta. A falta desse princípio e a omissão de questões urgentes não são motivo para negar importância à proposta, que precisa ser ajustada. Compreende-se a dificuldade dos que pagaram caro na eleição pelo voto às mudanças de se desprender do humano, mas menor, sentimento de desforra e de continuar a apoiá-las, para o bem do país. Mas o interesse público que moveu os que acordaram cedo deverá animá-los a apoiar as reformas. José Cechin, 52, é doutor em economia pela Universidade de Cambridge (Inglaterra). Foi ministro da Previdência (governo FHC). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Jorge Boaventura de Souza e Silva: As máscaras que estão caindo Índice |
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