São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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CLÓVIS ROSSI

O "programa" e o butim

SÃO PAULO - Todas as faculdades de jornalismo deveriam colar um cartaz nas salas de aula avisando: "Ficar muito tempo na profissão, especialmente na reportagem, faz mal. Faz mal à saúde (do jornalista) e à credibilidade das personalidades públicas". Da saúde até que não posso me queixar. Mas a credibilidade dos homens públicos, comigo ao menos, está ao rés do chão. Olho para certas fotos e não consigo levar a sério o ato de que participaram os personagens. Caso, por exemplo, do encontro entre Lula, o senador Aloizio Mercadante, o ministro Tarso Genro e o ex-governador Orestes Quércia. Eu sei o que disseram uns do outro e o outro dos uns. Não é apenas a famosa historinha do carrinho de pipoca que Quércia teria roubado, na versão Lula de antes. São tantas outras coisas, ditas às vezes em conversas informais, que tiram toda a seriedade que os cinco tentam dar à aliança. Lembro-me, por exemplo, da campanha estadual de 1986. Quércia, então em distante terceiro nas pesquisas, via de longe a troca de farpas cabeludas entre seus rivais Antônio Ermírio de Moraes e Paulo Maluf. Até que se meteu entre eles com uma frase extraída da sua suposta (ou real) sabedoria caipira: "Em briga de comadres é que se dizem as verdades". Pois, Quércia, foi na "briga de comadres" entre você e os petistas, anos atrás, que se disseram as verdades, uns sobre os outros. Agora vem Tarso Genro e fala em "documento programático" como alternativa a uma aliança formal. Só rindo. É camada de maquiagem para ocultar o fato de que o único "programa" da aliança é a distribuição do butim (de cargos públicos e eventualmente algo mais, como ocorreu com o mensalão e os "sanguessugas", "programa" dos dois partidos, entre outros).

@ - crossi@uol.com.br


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