São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Cooperativismo e globalização

MÁRCIO LOPES DE FREITAS

Na era da globalização, a defesa de uma sociedade justa e solidária é interpretada quase como uma utopia. As grandes nações que bloqueiam o livre comércio nos fóruns internacionais agem inspiradas por grandes "players" multinacionais da economia globalizada, dotados de um grande poder de influência sobre os governos. Esses grupos têm interesses financeiros e comerciais; não compartilham, na maioria das vezes, causas políticas e sociais nem se preocupam com a criação e manutenção de mecanismos de negócios internacionais que aliem o desenvolvimento econômico à boa distribuição de renda.
Baseado nos seus consagrados princípios de igualdade e solidariedade, o cooperativismo se coloca como contraponto à prática cega dessa globalização mercantil. O tema deste ano para o Dia Internacional do Cooperativismo, comemorado amanhã, é "Cooperativismo por uma globalização mais justa: criando oportunidades para todos". Em todo o mundo, 800 milhões de associados a cooperativas provam que é possível uma globalização justa, ao colocarem os interesses do homem em primeiro lugar e respeitarem a autonomia e as identidades locais. O Brasil é um grande exemplo de como esse processo deve ser conduzido. Hoje, somos 5,7 milhões de cooperados em mais de 7.000 cooperativas de 13 ramos de atividade econômica distintos -que representam 6% do PIB e são responsáveis pela criação de quase 200 mil empregos diretos.


Em todo o mundo, 800 milhões de associados a cooperativas provam que é possível uma globalização justa


Indutoras do agronegócio, as cooperativas agropecuárias são provas incontestes de que é possível construir uma sociedade mais justa na economia globalizada. A atuação do cooperativista Roberto Rodrigues no comando do Ministério da Agricultura tem sido marcada pela luta contra as barreiras comerciais impostas ao Brasil e pela defesa dos nossos produtos no mercado internacional. O próprio presidente Lula defendeu, mais de uma vez, o sistema cooperativista como o melhor meio para aliar desenvolvimento econômico e social.
Mas não é só no campo que o cooperativismo se mostra como uma alternativa viável aos efeitos da globalização. No ambiente urbano, a ferramenta cooperativista vem sendo cada dia mais utilizada, como forma de desenvolvimento econômico com inclusão social. As cooperativas de trabalho legitimamente constituídas geram trabalho e renda, criando mais de 300 mil postos no país.
As cooperativas de consumo, constituídas por mais de 2 milhões de brasileiros, são o equilíbrio dos preços de alimentos e bens de primeira necessidade no varejo. As cooperativas habitacionais lutam e tornam realidade o sonho da casa própria para a população de baixa renda. As cooperativas de saúde criam oportunidade de trabalho para cerca de 300 mil profissionais do setor, atendendo mais de 14 milhões de brasileiros de forma digna. As de infra-estrutura já criaram mais de 120 mil km de redes elétricas, levando energia e desenvolvimento a mais de 600 mil famílias. As cooperativas do ramo educacional reúnem mais de 100 mil associados e atendem diretamente a cerca de 11 mil alunos, oferecendo ensino de boa qualidade a preço justo. Já as do ramo de transporte congregam uma frota de mais de 5.000 veículos.
Outro setor que merece destaque é o cooperativismo de crédito, que facilita o acesso dos cooperados ao mercado financeiro, com melhores condições que as instituições bancárias tradicionais. O ramo de crédito conta com três sistemas, Sicredi, Sicoob e Unicred, e dois bancos, Bansicredi e Bancoob. Hoje, mais de 1.100 cooperativas e 1,4 milhão de cooperados fazem parte do sistema.
Os ramos especial, mineral, de produção e de turismo completam o panorama do cooperativismo brasileiro.
Continua sendo necessário diminuir a distância entre a população mais pobre e os benefícios gerados pela globalização, principalmente nos países em desenvolvimento. E o cooperativismo é, cada vez mais, o instrumento eficaz para a justiça social com equilíbrio.

Márcio Lopes de Freitas, 42, administrador de empresas, é presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).


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