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Depois do Fed
Otimismo exagerado nas finanças globais acabou, mas o Brasil ainda tem chances de crescer que não se devem desperdiçar
OS MERCADOS financeiros receberam com alívio o comunicado divulgado pelo Fed (o
banco central dos EUA) ao final
de sua reunião de quinta-feira,
na qual decidiu elevar a sua taxa
de juros básica para 5,25% ao
ano. O texto trouxe a avaliação
de que o incipiente processo de
desaceleração da demanda nos
Estados Unidos possivelmente
será suficiente para dissipar as
pressões sobre a inflação sem
que novos aumentos de juros se
façam necessários.
No Brasil, a reação a essa sinalização foi expressiva: a Bovespa
subiu com força, e a cotação do
dólar cedeu. Esses movimentos,
porém, não devem ser tomados
como demonstração de que a
temporada de maior volatilidade
financeira global se encerrou. Na
verdade, o que já chegou ao fim
foi o período de extrema bonança para os emergentes -marcada pela combinação de um ritmo
forte de crescimento do comércio internacional em concomitância a juros bastante baixos,
estimuladores da busca dos retornos mais altos propiciados
por ativos de maior risco.
Doravante, ou bem a economia
dos EUA irá efetivamente desacelerar, o que limitaria o dinamismo do comércio mundial, ou
o Fed promoverá novas elevações de juros para manter a inflação sob controle, o que teria impacto negativo sobre a disponibilidade de capitais para os emergentes. Tal cenário não leva em
conta hipóteses mais pessimistas, como a de os persistentes desequilíbrios nas contas externas
e fiscais dos EUA redundarem
num desarranjo mais sério na
principal economia do planeta.
A rápida queda recente da cotação do dólar no Brasil é indicativa de que, mesmo num contexto global no mínimo moderadamente menos favorável, ainda
estão presentes potentes vetores
de apreciação do real, com destaque para o nível ainda muito alto
da taxa de juros básica (Selic). Já
está evidenciado que a apreciação do real, decisiva para o cumprimento das metas de redução
da inflação perseguidas desde
2003, há algum tempo vem corroendo a competitividade da
economia e, portanto, o seu potencial de crescimento.
Na semana passada, o governo
tomou duas decisões que sugerem uma disposição de aproveitar melhor as possibilidades de
estimular o crescimento da economia. Valendo-se da sensível
redução do risco-país observada
desde sua reunião anterior, o
Conselho Monetário Nacional
reduziu a taxa de juros dos empréstimos do BNDES dirigidos a
projetos de investimento. Em
paralelo, determinou para 2008
meta de inflação (4,5%) equivalente às de 2006 e 2007.
Nesse contexto, uma apreciação adicional do real, além de
pouco funcional para o crescimento da economia, tornou-se
claramente desnecessária da ótica do controle da inflação, uma
vez que a meta agora não mais é
reduzi-la de modo rápido, mas
apenas mantê-la estável.
Que esses aspectos sejam levados em devida conta pelo Banco
Central em suas próximas decisões relativas à taxa Selic. Reduzir o ritmo com que vem sendo
cortada seria um equívoco grave.
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