São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

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Depois do Fed

Otimismo exagerado nas finanças globais acabou, mas o Brasil ainda tem chances de crescer que não se devem desperdiçar

OS MERCADOS financeiros receberam com alívio o comunicado divulgado pelo Fed (o banco central dos EUA) ao final de sua reunião de quinta-feira, na qual decidiu elevar a sua taxa de juros básica para 5,25% ao ano. O texto trouxe a avaliação de que o incipiente processo de desaceleração da demanda nos Estados Unidos possivelmente será suficiente para dissipar as pressões sobre a inflação sem que novos aumentos de juros se façam necessários.
No Brasil, a reação a essa sinalização foi expressiva: a Bovespa subiu com força, e a cotação do dólar cedeu. Esses movimentos, porém, não devem ser tomados como demonstração de que a temporada de maior volatilidade financeira global se encerrou. Na verdade, o que já chegou ao fim foi o período de extrema bonança para os emergentes -marcada pela combinação de um ritmo forte de crescimento do comércio internacional em concomitância a juros bastante baixos, estimuladores da busca dos retornos mais altos propiciados por ativos de maior risco.
Doravante, ou bem a economia dos EUA irá efetivamente desacelerar, o que limitaria o dinamismo do comércio mundial, ou o Fed promoverá novas elevações de juros para manter a inflação sob controle, o que teria impacto negativo sobre a disponibilidade de capitais para os emergentes. Tal cenário não leva em conta hipóteses mais pessimistas, como a de os persistentes desequilíbrios nas contas externas e fiscais dos EUA redundarem num desarranjo mais sério na principal economia do planeta.
A rápida queda recente da cotação do dólar no Brasil é indicativa de que, mesmo num contexto global no mínimo moderadamente menos favorável, ainda estão presentes potentes vetores de apreciação do real, com destaque para o nível ainda muito alto da taxa de juros básica (Selic). Já está evidenciado que a apreciação do real, decisiva para o cumprimento das metas de redução da inflação perseguidas desde 2003, há algum tempo vem corroendo a competitividade da economia e, portanto, o seu potencial de crescimento.
Na semana passada, o governo tomou duas decisões que sugerem uma disposição de aproveitar melhor as possibilidades de estimular o crescimento da economia. Valendo-se da sensível redução do risco-país observada desde sua reunião anterior, o Conselho Monetário Nacional reduziu a taxa de juros dos empréstimos do BNDES dirigidos a projetos de investimento. Em paralelo, determinou para 2008 meta de inflação (4,5%) equivalente às de 2006 e 2007.
Nesse contexto, uma apreciação adicional do real, além de pouco funcional para o crescimento da economia, tornou-se claramente desnecessária da ótica do controle da inflação, uma vez que a meta agora não mais é reduzi-la de modo rápido, mas apenas mantê-la estável.
Que esses aspectos sejam levados em devida conta pelo Banco Central em suas próximas decisões relativas à taxa Selic. Reduzir o ritmo com que vem sendo cortada seria um equívoco grave.


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