São Paulo, quarta-feira, 02 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENDÊNCIAS/DEBATES

As previsões do Ipea e a sua missão

JOÃO SICSÚ


Além de manter o trabalho de anos do Ipea de fazer análise e previsões, busca-se adicionar um novo elemento à rotina da instituição


CERTAS MATÉRIAS e reportagens veiculadas nos últimos dias não esclareceram plenamente algumas mudanças positivas promovidas na rotina de trabalho do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A Carta de Conjuntura do Ipea com periodicidade trimestral está mantida, assim como o trabalho regular de análise conjuntural e realização de previsões dos técnicos da instituição.
A Diretoria de Estudos Macroeconômicos decidiu, ao final de 2007 (portanto, há mais de seis meses), mudar a metodologia de apresentação de previsões de variáveis macroeconômicas feitas em sua Carta de Conjuntura. Pela nova fórmula, na Carta de Conjuntura de março de cada ano, serão feitas as previsões para o ano corrente. Algumas variáveis, como o crescimento do PIB, serão apresentadas na forma de bandas, com limites inferior e superior.
Novas previsões somente serão apresentadas ao longo de cada ano caso a variável efetiva negue a variável prevista. Neste caso, será apresentada uma justificativa analítica do erro e uma nova previsão será feita para aquela variável específica.
Essa fórmula é bastante diferente da adotada por órgãos do governo que operam políticas econômicas e de instituições que operam no mercado financeiro. Para tais órgãos e instituições, que sofrem a exigência do cotidiano, o mais importante é a revisão de previsões quando há a possibilidade de erro, já que tais previsões orientam decisões imediatas. Uma previsão incorreta feita por entidades que atuam no curto prazo deve ser descartada. Para o Ipea, a previsão incorreta também tem seu valor, porque se tornará objeto de análise e estudos.
Para o Ipea, que é uma instituição de pesquisa, mais importante que fazer previsões, acertando ou errando, é aperfeiçoar métodos e aprofundar análises para melhor elaborar projetos de desenvolvimento para o Brasil. Portanto, considera-se muito importante a análise do erro de previsão.
Técnicos do Ipea podem e devem fazer previsões para auxiliar suas análises e estudos. Podem, se desejarem, em caráter individual -e não institucional-, divulgar tais previsões. As previsões e estudos, quando institucionais, são validados em reuniões com a presença da direção do Ipea.
A nova fórmula de apresentação de previsões do Ipea busca agregar valor ao debate sobre economia, na medida em que pretende enfatizar na discussão sobre previsões um elemento novo e qualitativo, qual seja, uma análise detalhada de erros e acertos.
Dessa forma, além de manter o trabalho de anos do Ipea de fazer análise e previsões, busca-se adicionar um novo elemento à rotina de trabalho da instituição, que será a execução de um balanço analítico permanente de suas previsões.
Nossas principais previsões feitas na carta de março de 2008 para dezembro foram as seguintes: crescimento real do PIB de 4,2% a 5,2%; variação real do investimento de 12,4% a 14,1%; déficit em transações correntes de US$ 11,5 bilhões; variação do IPCA de 4% a 5%; e taxa de juros Selic de 13,25%. Está sendo elaborada uma nota técnica para apresentar o erro cometido em relação à previsão do déficit em transações correntes, que já superou US$ 14,7 bilhões.
A missão do Ipea é elaborar um projeto para o país, concentrando suas energias em pesquisas de cunho estratégico. Essa, em verdade, é a missão atual e de origem do Ipea. Concentrar energias e recursos para pensar o desenvolvimento brasileiro é recuperar mais de 40 anos de trabalho acumulado na instituição. Não há atividade mais relevante para o Ipea que pensar o desenvolvimento do Brasil, que, apesar dos avanços, ainda patina para superar atrasos estruturais.
Os técnicos e dirigentes do Ipea, a despeito da missão institucional, podem e devem se pronunciar sobre os fatos correntes da economia e sociedade brasileiras. Como técnicos e cidadãos, não podem se furtar de opinar sobre fatos cotidianos relevantes.
Gostaria de destacar a minha clara e firme posição de que as previsões e estudos do Ipea não influenciam o mercado financeiro nem são influenciados por ele. Ademais, não influenciam movimentos político-ideológicos e não são influenciados por eles.
Por último, gostaria de enfatizar que não é verdadeira declaração atribuída a mim no último domingo sobre o nível da taxa básica de juros praticada hoje no Brasil. Em artigo publicado no caderno Dinheiro, foi mencionada reportagem publicada em "O Globo" de 27/06/08. Contudo, basta verificar o texto original para ter certeza do equívoco cometido. Foi atribuída a mim declaração de outrem.


JOÃO SICSÚ , 48, é diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e professor do Instituto de Economia da UFRJ. É autor do livro "Emprego, Juros e Câmbio" (Campus-Elsevier, 2007).

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br



Texto Anterior: Frases

Próximo Texto: Luiz Flávio Gomes: Lei seca: exageros, equívocos e abusos

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.