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O governo deve alterar a atual política cambial?
NÃO
Apesar dos entraves
ROBERTO NICOLAU JEHA
O governo não deve nem pode alterar
a sua política cambial. Na verdade, foi
ela que possibilitou e continua tornando possível, apesar dos erros cometidos
no seu início, a vitória sobre a inflação
nestes três anos de Plano Real, grande
trunfo do governo e grande base de sua
sustentação política. É um feito, em um
país que esteve anos à beira da hiperinflação, que não pode ser subestimado.
Os benefícios daí decorrentes, especialmente à população de baixa renda,
foram enormes. Milhões de novos consumidores foram incorporados ao
mercado, e qualquer pessoa de bom
senso não aceita de volta a inflação.
Ao mesmo tempo, começa a ficar claro para a sociedade que a estabilidade é
necessária, mas não suficiente. As pressões sociais e econômicas são enormes
e vêm de todos os lados.
O desemprego aumenta a cada dia, e
o crescimento econômico é medíocre.
A indústria, setor a que pertenço, tem
pagado um alto preço por essa conquista, não só em virtude do câmbio
valorizado, mas também por causa de
uma abertura da economia feita de
uma maneira não planejada, sem um
projeto de política industrial que a insira de maneira autônoma no mundo
globalizado. Além disso, enfrenta sufocante carga tributária e paga os mais
altos juros do mundo.
Assim sendo, o desafio agora é como,
mantendo a estabilidade, voltar a crescer de uma maneira sustentada, com
taxas bem maiores que as atuais, condição necessária para criarmos os novos empregos de que tanto necessitamos para diminuir a nossa grande exclusão social.
Estou convencido de que isso só será
possível quando a vitória definitiva sobre a inflação não depender apenas de
câmbio baixo e juros altos, mas sim de
um efetivo ajuste fiscal, que ponha em
ordem as contas públicas brasileiras.
Para que isso deixe de ser uma miragem distante, são imprescindíveis as
grandes reformas do Estado: a política,
a tributária, a administrativa e a previdenciária.
Enquanto esse objetivo essencial não
for conseguido, e ficar empoçado nas
tortuosas vielas fisiológicas do Congresso Nacional, resta-nos apenas a alternativa de pelo menos manter sob
controle a inflação. Além da atual política de câmbio, apesar de todos os entraves que cria ao crescimento da economia e principalmente ao das exportações, sinceramente, não consigo ver
uma melhor.
Feitas as reformas, efetuadas as privatizações, saneadas as contas públicas,
restabelecida a capacidade do Estado
de voltar a investir onde deve, estará
aberto o espaço de crescimento com estabilidade, que não dependerá mais da
âncora cambial. Porém mexer nela
agora seria jogar fora todo o resultado
conseguido e voltarmos à terrível situação de indexação cambial, com inflação e sem crescimento, que tão bem conhecemos.
Roberto Nicolau Jeha, 59, industrial, é diretor-presidente da Indústria de Papel e Papelão São Roberto S/A.
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