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ELIANE CANTANHÊDE
Uma ponte minimalista
BRASÍLIA - O que o governo quer e espera do FMI -ou, em última instância, dos EUA- é um acordo minimalista, nada muito abrangente,
quase um quebra-galho. Algo aí pelos
US$ 10 bilhões, sem dar como garantia uma carta assinada pelos candidatos à Presidência. Ah! E rápido.
São três os discursos:
1 - Para o próprio FMI, o de sempre:
os "fundamentos" da economia são
sólidos como uma rocha, o Brasil não
é a Argentina (nem o Uruguai, a Venezuela, a Colômbia...) e tudo isso
parece uma crise, mas não passa de
"pressão especulativa" ou "reação
psicológica" do mercado.
2 - Para os formadores de opinião, o
importante é dizer o FMI vai dar o
empréstimo "logo", porque o Brasil
precisa dos EUA, mas os EUA também precisam do Brasil. "Se o Brasil
desanda, desanda o continente."
3 - Para os candidatos e seus partidos: "Estamos construindo a ponte
para o futuro presidente ser feliz. Ele
pode atravessar e chegar ao outro lado, ou pode pular no abismo".
"Não pular no abismo" significa
comprometer-se com um superávit
primário polpudo, metas de inflação,
câmbio livre e respeito aos contratos.
Para Serra, assumir isso é mole. Para
Lula nem tanto, mas o PT não faz
outra coisa. E, para Ciro, o problema
é segurar a língua. Ele fala, fala, fala
e às vezes confunde.
Já meteu o pau nas metas de inflação, mas hoje assume o que a cúpula
econômica tenta definir, diplomaticamente, como "um compromisso
meio difuso de inflação baixa". Deve
dar para o gasto, ou seja, para convencer o FMI a soltar logo a grana.
O fato é que há uma crise -um
"estresse" no mercado- com o dólar
pulando para R$ 3,60 num dia, caindo para R$ 3,15 no outro. E esse não é
um problema apenas para um governo que está no fim, mas para a população, as empresas, o continente, os
EUA e, enfim, para o futuro presidente da República, seja ele quem for.
O que Armínio Fraga quer, por
exemplo, é fazer a ponte e deixá-la
para o novo governo, enquanto ele
pula correndo. Não no abismo, é claro. Mas da confusão.
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