![]() São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Obviedades
MICHEL TEMER
Agora, obviedades históricas nacionais, cuja leitura se faz oportuna para avaliar se os sistemas jurídicos também podem ser democráticos ou ditatoriais. A Constituição de 1891 inspirava-se na norte-americana de 1787, com forte significação democrática. Perdurou até 1930, quando várias convulsões sociais levaram às Constituições de 1934 e 1937, esta última com afirmação ditatorial. Assim foi até 1945, sobrevindo a Carta de 1946, acolhedora dos direitos individuais. Durou até 1964, quando se instalou o governo autoritário, passando pela Constituição de 67/69, que vigorou até 82/83, início do movimento pela reconstitucionalização, de que resultou a Carta Magna de 1988, que fixou critérios de participação e de saliência dos direitos humanos. Portanto, o Brasil viveu, desde 1891, períodos democráticos e autoritários. Mas, em todos eles, as premissas da responsabilização política não foram ignoradas. Pelo menos no papel. Na prática, contudo, muitos direitos eram agredidos e nem sempre a institucionalização política ocorreu como deveria. Com a revolução inesperada da informação, a sociedade passou a conhecer os fatos em tempo real e, graças a esse processo, conseguimos romper o ciclo vicioso e periódico de ditadura e democracia. Com uma Constituição democrática de apenas 17 anos de idade, ninguém imagina que o país resvale para o retrocesso ditatorial. Dito isso, distingo a oportunidade do pensamento do ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais. Primeiro, pelo reconhecimento de que o espírito democrático deve guiar o processo em curso. E com plena transparência. Tudo deve ser rigorosamente apurado. Jaques Wagner sugere amplo relacionamento com o Congresso. Mas o governo, ressalto, deve dar um basta ao abuso de medidas provisórias. O Parlamento não deve ficar refém do Executivo. Sugere ainda debate e votação das reformas tributária e política. Para tanto, urge que o governo tenha efetivo interesse em aprofundar a pauta da reforma tributária, contendo a sanha de arrecadação de tributos e impostos. O setor produtivo carece de estímulos. E reforma política, nesse momento, pode ensejar decisões casuísticas, ressalvando-se questões pontuais e de consenso, como fidelidade partidária. A proposta do ministro deve ser aceita por todos os partidos como um gesto de boa vontade do governo para abrir um novo tempo. Um tempo de relações mais respeitosas e institucionais com os partidos, de clarificação de intenções, de espírito desarmado. Um tempo de menos espalhafato e mais discrição nas investigações a cabo das autoridades policiais, como as que se vêem por ocasião da invasão de escritórios de advocacia e prisão de empresários. E, por fim, nada de acertos espúrios que venham a isentar de responsabilidade qualquer autoridade do Legislativo ou do Executivo. O PMDB que não ocupa cargos no governo está disposto a esse diálogo. Michel Temer, 64, advogado, professor de direito constitucional da PUC-SP e deputado federal, é o presidente nacional do PMDB. Foi presidente da Câmara dos Deputados e secretário da Segurança Pública (governos Montoro e Fleury) e de Governo do Estado de São Paulo (gestão Fleury). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Marcos Cintra: Tolerância zero na reforma política Índice |
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