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CLÓVIS ROSSI
Rotular x governar
SÃO PAULO - Parece não passar dia sem que alguém do PT venha a público para explicar as muitas mudanças
de posição do partido desde que chegou ao poder.
A mais recente pertence a José Dirceu, chefe da Casa Civil, para quem o
que o governo do PT procura é "construir uma nova coalizão político-parlamentar, uma nova aliança político-empresarial e uma nova aliança popular-empresarial para consolidar
um projeto que, em primeiro lugar,
resgata o projeto de desenvolvimento
nacional".
É a refundação da pátria, pouco
mais ou pouco menos, não?
Se Dirceu tivesse falado de público,
daria para entender. Dirigentes políticos não raro são chamados a explicar o inexplicável. Alguns até se saem
razoavelmente bem.
Mas Dirceu estava falando em reunião fechada, circunstancialmente
gravada pela Folha.
Se a palestra era para dirigentes do
PT, para que, então, enganar seu
próprio povo?
Que "nova coalizão político-parlamentar" é essa que inclui, por exemplo, o PTB, hoje comandado em boa
medida por líderes "colloridos"?
Ou o PMDB, a mais antiga coleção
de caciques regionais que a política
brasileira jamais conheceu e que busca uma boquinha no governo seja
qual for o governo?
Para não falar do PP (o ex-PPB de
Paulo Maluf). Lula/Maluf é de fato
uma coalizão nova. Só não parece
coisa séria.
Que nova aliança político-empresarial é essa se os empresários são os
mesmos de sempre (fora, claro, os
poucos homens de negócio petistas de
carteirinha)?
Empresário sempre busca ou o
aconchego do governo ou, no mínimo, evitar atritos, salvo quando o governo contraria seus interesses, caso
em que mergulha na conspiração.
E, finalmente, temos "uma nova
aliança popular-empresarial". Já, já,
virá a "Nova República" ou a "Reconstrução Nacional".
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