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CARLOS HEITOR CONY
A grande comadre
RIO DE JANEIRO - Não havia mídia naquela época: nem rádio, TV
ou internet. Os poucos jornais eram
oficiais ou oficiosos, malfeitos, de
circulação simbólica. As notícias
eram poucas, nada acontecia de importante além do expediente funcional. Afinal, "era no tempo do rei"
-a frase que inicia as "Memórias de
um Sargento de Milícias".
Não havia mídia, mas havia as comadres, sobretudo a "comadre", a
personagem mais importante da literatura brasileira depois de Capitu. Ela tudo sabia, todos a procuravam para abastecê-la ou para se
abastecer. Tinha acesso aos quartéis, à copa e à cozinha das autoridades, às alcovas do poder e da plebe. As coisas só aconteciam se passadas
por ela, na mão ou na contramão,
sempre acrescidas pelo conhecimento da sociedade em geral. Além
de noticiosa, era o arquivo, a pesquisa e a memória ambulante de
seu tempo.
Evidente que não poderia concorrer com a eficiência midiática de
hoje, mas fazia o mesmo efeito. À
primeira vista, poderia ser considerada uma fofoqueira que bisbilhotava a vida alheia. Apurava muito,
mas só "editava" o que julgava interessar àqueles que nela procuravam informações e opiniões.
Era honesta. Como famoso dono
de um jornal do século 20, só se
vendia por um almoço que ela mesma pagava.
Se a comadre ainda estivesse em
atividade, teríamos material mais
suculento sobre os dois casos que
estão emocionando a nossa mídia:
as trapalhadas do presidente do Senado e as confidências e inconfidências do Supremo Tribunal Federal a propósito do mensalão.
Apesar de desprovida de recursos
tecnológicos, a comadre tinha a
vantagem de ser amiga do major Vidigal, a suprema autoridade policial
da época.
Ela podia mandar prender ou soltar suspeitos e insuspeitos.
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