São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A grandeza dos pequenos

Celebramos em 1º de outubro a Festa de Santa Teresinha do Menino Jesus, jovem carmelita cuja vida nos encanta e nos aproxima de Deus.
Ela não realizou obras vistosas. Deixou-nos exemplo de exímia santidade pela vida simples, humilde e despretensiosa. Essa jovem, nascida em Alençon, na França, no ano de 1873, com apenas 24 anos ofereceu-nos o testemunho de intenso amor a Deus e de zelo pelo bem do próximo. Sua breve existência ainda hoje maravilha a quantos conhecem a beleza de seu itinerário espiritual que ela mesma denominava de a "pequena via". Nela se manifesta a grandeza dos pequenos.
Como seria bom se, em meio a preocupações e afazeres cotidianos, atônitos diante da violência, da injustiça e da perda -para muitos- do sentido da vida, pudéssemos aprender as lições da jovem religiosa de Lisieux.
Já aos 15 anos, com especial licença, consagrou-se a Deus como contemplativa de estrita clausura, seguindo a Regra das Carmelitas. Seu coração, no entanto, desapegado dos interesses pessoais, consciente da própria pequenez, deixou-se possuir pela infinita misericórdia de Deus e, desde cedo, entregou-se com ilimitada confiança. Sentia-se nos braços divinos "como criança no regaço de sua mãe", Em Deus encontrava a tranqüilidade interior e a força que supria a experiência da pequenez e a encorajava a doar-se sem limites para o bem do próximo.
Na oração contínua, confiava a Deus as necessidades dos irmãos, nos quais reconhecia, à luz da fé, a face de Deus. Dizia, com simplicidade, "no coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor", e acrescentava o pedido a Deus que lhe concedesse "passar o céu fazendo o bem sobre a terra". Incluía nessa prece, em primeiro lugar, a vontade de oferecer sua vida e seus sofrimentos para a conversão dos que se encontram no pecado, longe de Deus e da felicidade eterna. Essa doação de si para o bem espiritual do próximo e o forte desejo de atrair todos a Deus justificam a escolha de Santa Teresinha pela Igreja, como especial padroeira dos missionários. Convencida do poder da oração, acompanhava, pela oferta dos sofrimentos e pequenos sacrifícios, o zelo dos que anunciam os valores do Reino de Deus nas regiões mais distantes. Na pequena cela do Carmelo, seu coração em prece vivia, à semelhança de Jesus Cristo, o amor e a solicitude por toda a humanidade.
Precisamos muito das lições desta jovem Santa. Ela nos ensina a encontrar a paz pela prática do amor confiante em Deus e aberto às necessidades do próximo.
Diante dos problemas complexos que desafiam a sociedade, todos temos necessidade de voltar o coração para Deus, acreditar na sua misericórdia e renovar a esperança na certeza de que, à luz do amor divino, tudo coopera para o bem (Rom. 8, 28).
Do amor há de brotar a vontade de querer ajudar o próximo nas pequenas ocasiões de cada dia. Ainda hoje, a "pequena via" da infância espiritual continua atraindo muitas pessoas que, no escondimento da família e no meio do povo, seguem o mesmo caminho de Santa Teresinha -de humildade, de amor e de alegria confiante. Quantas vezes tenho conhecido a grandeza da virtude de pessoas simples que se santificam pela prática do amor e revelam para nós a beleza da misericórdia de Deus.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Por Júpiter!
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.