São Paulo, sexta-feira, 02 de outubro de 2009

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Radiografia rural

Censo Agropecuário do IBGE expõe ganhos de eficiência da agricultura nacional, que ainda tem longo caminho à frente

O 10º CENSO Agropecuário do IBGE, com dados de 2006, compõe um retrato bifronte do campo brasileiro. A face mais à vista parece apontar um retrocesso, com o aumento da concentração de terras desde 1996. Por trás dela, contudo, vislumbra-se uma agropecuária pujante, que se moderniza e compete com sucesso no mercado global, embora ainda possa tornar-se muito mais eficiente.
Em 2006, havia 5,2 milhões de estabelecimentos rurais no país, responsáveis por uma produção no valor de R$ 147 bilhões e por empregar 18,9% da população ativa. Dez anos antes, eram 4,9 milhões de propriedades.
A área ocupada, que corresponde a 36,8% do território nacional, recuou 6,7%. Ou seja, o equivalente a 237 mil km2 a menos -uma superfície do tamanho de Rondônia. Produz-se mais, em volume e valor, com muito menos terra.
Nesse processo de ganho de produtividade, aumentou 1,9% a concentração de terras medida pelo índice de Gini. Passou-se de 0,856 para 0,872 (quanto mais perto de 1, mais área na mão de menos proprietários).
Ocorre que variaram pouco tanto a parcela da área total ocupada por latifúndios, de 45,1% para 44%, quanto a de minifúndios, de 2,2% para 2,4%. A concentração atingiu propriedades médias, segundo o IBGE, sob estímulo de cultivos de commodities, como soja, milho e algodão.
Todos eles observaram avanços de produtividade entre os censos, com destaque para o milho (47,7%). Com todas as incertezas e dificuldades de que os empresários do agronegócio habitualmente se lamentam, estão investindo e conquistando mercado no mundo. Só a produção de soja aumentou 88% em uma década.
A modernização alcança até a pecuária, poucas décadas atrás um símbolo de atraso no campo. Embora ocupe 62% da área total, representa só 10% da renda agrícola. Mas o rebanho bovino cresceu 12,1%, para 171 milhões de cabeças, mesmo com redução de 10,7% nas pastagens.
Se em 1996 havia 0,86 cabeça por hectare, em 2006 a cifra subiu para 1,08/ha. Ainda distante, decerto, das 5/ha que a Embrapa indica ser possível manter com manejo adequado de pastos.
Há, portanto, ampla margem para intensificar a pecuária bovina e aumentar a participação das exportações na produção, que já progrediu de 1,2% para 17,8%. Em paralelo, libera-se terra para aumentar o plantio de outras commodities sem avançar sobre áreas de vegetação primária, como exigem mercado e opinião pública dentro e fora do país.
O censo aponta ainda muitas outras mazelas agrícolas brasileiras, como a baixa utilização de crédito -menos de um quinto dos estabelecimentos recorreu a financiamentos em 2006- e a carência de assistência técnica. A agropecuária vai bem, no final das contas, mas precisa ir muito melhor para aproveitar todo o potencial presente no país.


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