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Radiografia rural
Censo Agropecuário do IBGE expõe ganhos de eficiência da agricultura nacional, que ainda tem longo caminho à frente
O 10º CENSO Agropecuário do IBGE, com dados de 2006, compõe
um retrato bifronte do
campo brasileiro. A face mais à
vista parece apontar um retrocesso, com o aumento da concentração de terras desde 1996.
Por trás dela, contudo, vislumbra-se uma agropecuária pujante, que se moderniza e compete
com sucesso no mercado global,
embora ainda possa tornar-se
muito mais eficiente.
Em 2006, havia 5,2 milhões de
estabelecimentos rurais no país,
responsáveis por uma produção
no valor de R$ 147 bilhões e por
empregar 18,9% da população
ativa. Dez anos antes, eram 4,9
milhões de propriedades.
A área ocupada, que corresponde a 36,8% do território nacional, recuou 6,7%. Ou seja, o
equivalente a 237 mil km2 a menos -uma superfície do tamanho de Rondônia. Produz-se
mais, em volume e valor, com
muito menos terra.
Nesse processo de ganho de
produtividade, aumentou 1,9% a
concentração de terras medida
pelo índice de Gini. Passou-se de
0,856 para 0,872 (quanto mais
perto de 1, mais área na mão de
menos proprietários).
Ocorre que variaram pouco
tanto a parcela da área total ocupada por latifúndios, de 45,1%
para 44%, quanto a de minifúndios, de 2,2% para 2,4%. A concentração atingiu propriedades
médias, segundo o IBGE, sob estímulo de cultivos de commodities, como soja, milho e algodão.
Todos eles observaram avanços de produtividade entre os
censos, com destaque para o milho (47,7%). Com todas as incertezas e dificuldades de que os
empresários do agronegócio habitualmente se lamentam, estão
investindo e conquistando mercado no mundo. Só a produção
de soja aumentou 88% em uma
década.
A modernização alcança até a
pecuária, poucas décadas atrás
um símbolo de atraso no campo.
Embora ocupe 62% da área total,
representa só 10% da renda agrícola. Mas o rebanho bovino cresceu 12,1%, para 171 milhões de
cabeças, mesmo com redução de
10,7% nas pastagens.
Se em 1996 havia 0,86 cabeça
por hectare, em 2006 a cifra subiu para 1,08/ha. Ainda distante,
decerto, das 5/ha que a Embrapa
indica ser possível manter com
manejo adequado de pastos.
Há, portanto, ampla margem
para intensificar a pecuária bovina e aumentar a participação das
exportações na produção, que já
progrediu de 1,2% para 17,8%.
Em paralelo, libera-se terra para
aumentar o plantio de outras
commodities sem avançar sobre
áreas de vegetação primária, como exigem mercado e opinião
pública dentro e fora do país.
O censo aponta ainda muitas
outras mazelas agrícolas brasileiras, como a baixa utilização de
crédito -menos de um quinto
dos estabelecimentos recorreu a
financiamentos em 2006- e a
carência de assistência técnica.
A agropecuária vai bem, no final
das contas, mas precisa ir muito
melhor para aproveitar todo o
potencial presente no país.
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