São Paulo, sábado, 02 de novembro de 2002

Próximo Texto | Índice

NA PRESIDÊNCIA DA ALCA

O Brasil acaba de assumir, ao lado dos Estados Unidos, a presidência da Área de Livre Comércio das Américas na fase final de negociação do bloco.
Os norte-americanos praticamente demarcaram os limites das negociações da Alca no mandato que o Congresso dos EUA estabeleceu para o presidente George W. Bush. Boa parte dos temas delicados para os lobbies empresariais e sindicais americanos estará sujeita a alteração pelo Legislativo dos EUA.
Do lado brasileiro, há algum tempo parece superada a fase "ideológica" da diplomacia comercial, baseada no pressuposto de que abrir o mercado interno a estrangeiros é sempre bom, independentemente de haver reciprocidade da parte dos parceiros comerciais do Brasil. A realidade -de que a abertura indiscriminada é danosa para a indústria, o emprego e as contas externas do país- foi finalmente assimilada.
Como afirmou o ex-ministro Rubens Ricupero a esta Folha, um mercado consumidor da dimensão do norte-americano não pode ser desprezado pelo Brasil. O argumento ganha relevo no momento em que se impõe o caminho do aumento das vendas externas como o menos doloroso para a recuperação do crescimento da economia brasileira.
Esse fato apenas reforça que deve prevalecer uma visão pragmática das tratativas da Alca -que não é, ademais, a única via de acesso ao mercado americano. Seria diminuir a capacidade de o Estado brasileiro fazer políticas de desenvolvimento aceitar, por exemplo, a proposta dos EUA para o regime de investimentos no futuro bloco. Liberalizar completamente as compras governamentais também seria ruim. No próprio capítulo dos mercados que o Brasil pretende expor mais rapidamente à concorrência externa há que ter cautela.
A Alca será uma das três grandes conversações comerciais pelas quais o Brasil vai passar nos próximos anos. O que não puder ser conquistado na Alca pode ser perseguido em outro âmbito. Mortal seria fechar um acordo que impedisse o Brasil de ser uma economia globalmente competitiva. Como mortal será, e isso independentemente da Alca, a economia brasileira deixar de preparar-se para ampliar muito a sua participação nas exportações globais.


Próximo Texto: Editoriais: MORTES EVITÁVEIS
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.