São Paulo, sexta-feira, 03 de janeiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A roda por inventar

SÃO PAULO - O leitor que me perdoe por ter de voltar ao tema com que terminei o texto de ontem, mas faltou precisão.
Faltou dizer o que o jornal espanhol "El País" acabou afirmando na sua edição de ontem, em editorial, sobre a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Disse o seguinte: "O que Lula inaugura é, antes de tudo, a tentativa de desenhar um modelo que traduza em políticas o princípio de que a luta contra a desigualdade social não é uma consequência, mas uma condição prévia para o crescimento econômico da zona" (por zona entenda-se a América Latina).
Tomara que tenha sido essa a idéia de fundo por trás da frase de Lula, no discurso de posse, segundo a qual o Brasil "terá de pensar com a sua cabeça, andar com as suas próprias pernas, ouvir o que diz seu coração".
Ou, posto de outra forma, o Brasil de Lula terá de sair da ortodoxia sem jogar fora a criança (a estabilidade) junto com a água do banho, terá de voltar a crescer, mas terá também de inventar um crescimento que supere "a maior desigualdade social do mundo, uma tara que se converteu na trava central para seu desenvolvimento", para voltar a citar "El País", sempre falando de América Latina, e não apenas de Brasil.
É saudável que tenha sido precisamente essa a tônica do discurso de posse de Antonio Palocci como ministro da Fazenda.
"Um país como o Brasil só terá estabilidade econômica duradoura quando conquistar crescimento sustentável e estabilidade social", disse.
Prometeu também "um Estado a serviço da inclusão social e das condições necessárias à retomada do crescimento sustentável".
É claro que, como treino é treino, e jogo é jogo, falar é fácil, é treino. Fazer é outra coisa, é jogo duro.
Mas, ao menos, o falatório petista, nessas suas primeiras 48 horas, foge do temido "más de lo mismo".


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