São Paulo, quinta-feira, 03 de janeiro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

A lente da desambição

SÃO PAULO - O velho sábio que habitava esta Folha costumava repetir o ditado espanhol "nada é branco ou preto; tudo depende da cor da lente com a qual se olha". Aplica-se à perfeição aos dados econômicos de dois países. Um deles, Cingapura, desperta alarme no jornal britânico "Financial Times", que anuncia que "encolheu" o crescimento dessa cidade-nação. Encolheu para quanto? Para 6% no trimestre outubro/dezembro.
Seis por cento de crescimento é motivo de angústia em um lado do mundo. No outro, por estes trópicos, crescimento de 5,2%, que é a previsão para este ano, é motivo de orgulho e de comemorações.
Fica claro, na comparação, que a lente com que Cingapura olha a economia é a da ambição. Já a lente de boa parte dos brasileiros é a da mediocridade, em especial a dos que estão no governo, em qualquer época.
Não que 5,2% seja um crescimento medíocre. Mas não é tudo o que deveria ser, se o país tivesse de fato ambição. Repito frase de João Paulo de Almeida Magalhães, presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro, que já citei em 2006: "A economia brasileira só irá bem quando voltar a crescer 7% ao ano".
Aliás, o crescimento dos chamados países emergentes foi, na média, de 8,1% no ano passado, o que torna ainda mais pálidos os 5,2% do Brasil.
Pior: para 2008, o Banco Central aceita que a economia brasileira vai "encolher", na comparação com 2007, já que o crescimento se reduzirá a 4,5%.
Fica parecendo que mais de 5% de crescimento anual é algo tão excepcional, tão acima das possibilidades e potencial do país, que atingi-lo uma vez já está bom demais. E estamos falando só de economia.
Imagine o nível de desambição em saúde, educação, segurança pública, infra-estrutura (aérea, terrestre) etc. etc. etc.

crossi@uol.com.br


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