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CLÓVIS ROSSI
A lente da desambição
SÃO PAULO - O velho sábio que
habitava esta Folha costumava repetir o ditado espanhol "nada é
branco ou preto; tudo depende da
cor da lente com a qual se olha".
Aplica-se à perfeição aos dados
econômicos de dois países. Um deles, Cingapura, desperta alarme no
jornal britânico "Financial Times",
que anuncia que "encolheu" o crescimento dessa cidade-nação. Encolheu para quanto? Para 6% no trimestre outubro/dezembro.
Seis por cento de crescimento é
motivo de angústia em um lado do
mundo. No outro, por estes trópicos, crescimento de 5,2%, que é a
previsão para este ano, é motivo de
orgulho e de comemorações.
Fica claro, na comparação, que a
lente com que Cingapura olha a
economia é a da ambição. Já a lente
de boa parte dos brasileiros é a da
mediocridade, em especial a dos
que estão no governo, em qualquer
época.
Não que 5,2% seja um crescimento medíocre. Mas não é tudo o
que deveria ser, se o país tivesse de
fato ambição. Repito frase de João
Paulo de Almeida Magalhães, presidente do Conselho Regional de
Economia do Rio de Janeiro, que já
citei em 2006: "A economia brasileira só irá bem quando voltar a
crescer 7% ao ano".
Aliás, o crescimento dos chamados países emergentes foi, na média, de 8,1% no ano passado, o que
torna ainda mais pálidos os 5,2% do
Brasil.
Pior: para 2008, o Banco Central
aceita que a economia brasileira vai
"encolher", na comparação com
2007, já que o crescimento se reduzirá a 4,5%.
Fica parecendo que mais de 5%
de crescimento anual é algo tão excepcional, tão acima das possibilidades e potencial do país, que atingi-lo uma vez já está bom demais. E
estamos falando só de economia.
Imagine o nível de desambição em
saúde, educação, segurança pública, infra-estrutura (aérea, terrestre) etc. etc. etc.
crossi@uol.com.br
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