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NÃO À ANISTIA
A criatividade da vereança
paulistana continua a surpreender. Agora um projeto de autoria de José Mentor -ex-líder de Marta Suplicy na Câmara e, desde ontem,
deputado federal pelo PT- e abençoado com um pedido de tramitação
prioritária pelo Executivo inventou a
figura da "anistia provisória" para
imóveis comerciais irregularmente
instalados em algumas ruas e avenidas da cidade. Trata-se de mais uma
iniciativa de péssimo gosto que
ameaça tornar-se lei municipal.
A bagunça urbanística é uma das
características históricas de São Paulo. E ela se fez basicamente porque
nunca se criou uma cultura de punição a quem se instala irregularmente. A residência ou o comércio se assentam em locais proibidos pela legislação se valendo da leniência e/ou
da corrupção da fiscalização. Mais
tarde, um jogo que se vale do argumento do "fato consumado" e de outros expedientes -lobbies, financiamento de campanhas e afins- acaba por sacramentar a desordem na
Câmara e no Executivo municipais.
Era de esperar que um partido que
tanto bramiu contra os desmandos
da política paulistana tradicional
mudaria esse procedimento quando
chegasse ao poder. Parte dos vereadores do PT se recusou a endossar a
proposta. Mas a linha de comando
petista no Executivo e no Legislativo,
com o apoio de conhecidas e interessadas figuras de outras legendas, garantiu a aprovação do projeto em primeira votação, na quinta-feira.
Não se entende, ademais, a urgência de uma proposta como essa, que
atropela casuisticamente as discussões rumo à formulação de uma nova lei de zoneamento para a cidade,
requisito do Plano Diretor aprovado
no ano passado.
É, portanto, altamente recomendável que os vereadores pensem melhor e, na segunda rodada de votação, que pode acontecer a partir de
amanhã, rejeitem essa peça de resplandecente casuísmo, que sanciona
o descumprimento da lei e que avaliza a desordem urbana de São Paulo.
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