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CARLOS HEITOR CONY
O centauro dos pampas
RIO DE JANEIRO - No último domingo, a Folha divulgou o resultado de uma enquete para saber qual
teria sido o maior brasileiro da história. Deu Getúlio Vargas em primeiro lugar, seguido por JK e Machado de Assis. Apesar de convidado a integrar a turma de votantes,
um problema no computador me
impediu de votar. Mas teria votado
em Vargas e se tivesse direito a
mais de um voto, também votaria
em JK e Machado.
Haveria um consenso nisso tudo? Creio que ainda não, a lista dos
que receberam menos votos é grande. Tirante alguns nomes que foram escolhidos pontualmente, sem
abrangência histórica (Pelé, Garrincha, Tom Jobim, Evaristo Arns),
importantes em suas respectivas
áreas, mas que não geraram uma
história e um tempo, os demais foram merecedores de votos, como
Tiradentes, Aleijadinho, Santos
Dumont, Barão do Rio Branco etc.
Meses atrás, foi divulgada uma
pesquisa feita em Portugal sobre o
maior português da história. Salazar ficou em primeiro lugar, seguido por Álvaro Cunhal. Um ditador
de direita e um candidato a ditador
de esquerda.
Fiquemos nos dois primeiros,
Vargas e Salazar. Não tenho elementos para julgar Salazar, a não
ser o óbvio, um ditador que ficou
anos no poder, governando com a
mão forte da Pide -uma das polícias políticas mais cruéis do século
passado.
Vargas é mais complexo, embora
tenha sido ditador, com uma polícia especial que deixou marcas na
sociedade. Mesmo assim, aos poucos vai se formando um consenso
favorável ao centauro dos pampas.
Fui criado no ódio contra Vargas.
Quando escrevi um livro sobre ele,
descobri o avesso de uma frase de
Novalis: "Quando avistares a sombra de um gigante, encontrarás um
anão". Fui procurar um anão e encontrei um gigante.
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