![]() São Paulo, domingo, 03 de abril de 2011 |
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CARLOS HEITOR CONY Os bondes e a internet RIO DE JANEIRO - Parece extravagância comparar os velhos bondes, aquelas carroças puxadas por burro e mais tarde pelos cavalos-de-força da Light, com a internet, que é uma das pontas mais sofisticadas da técnica, o veiculo mais rápido da comunicação, do trânsito de ideias e sugestões que podem tornar a vida melhor. Acho que os bondes foram os primeiros espaços coletivos da publicidade: mensagens do governo, conselhos de saúde, beleza e poupança, ofertas de melhores produtos e preços. Naquele tempo, a preocupação com a sífilis (que era syphilis) e com as doenças pulmonares predominava nos anúncios. Num deles o sujeito ia se matar, apontava a pistola para a cabeça, nisso entrava um amigo e gritava: "Não faça isso! Tome o Elixir 914!" Famoso entre os famosos, os versinhos recomendavam o Rum Creosotado (que era Rhum) para curar bronquites: "Veja ilustre passageiro o belo tipo faceiro etc." Durante anos eu fiquei sem saber para que servia o Regulador Xavier e muito menos o que seriam "aqueles dias" para os quais era recomendado um remédio chamado "Saúde da Mulher". Por que não a Saúde do Homem? E o que tem tudo isso a ver com a internet? Assim como os bondes, que além de nos levar de um lugar para outro, nos ensinava a cuidar da saúde e do bolso, a internet, além de sua importância na comunicação humana, virou um penduricalho de mensagens comerciais. Mudaram apenas os produtos: em tempos de TPM, a saúde da mulher dispensa reguladores, sejam os do Xavier ou não. A oferta maior é dirigida sobretudo aos homens, embora as mulheres sejam as beneficiárias: Viagra e aumento de pênis chegam às nossas telinhas, prometendo paraísos a todos nós, que de alguma forma já nos livramos da sífilis e da bronquite. Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Fim de uma era Próximo Texto: Flávia Marreiro: As razões peruanas Índice | Comunicar Erros |
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