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CLAUDIA ANTUNES
Contra-sensos
NINGUÉM DUVIDA da fidelidade da Arábia Saudita aos
Estados Unidos, movida a
interesses comuns. O veterano repórter americano Seymour Hersh
contou há pouco tempo, na revista
"New Yorker", que os cofres generosos do reino andam financiando
grupos separatistas do Irã, numa
operação encoberta por procuração de Washington.
Na Arábia Saudita as petrolíferas
americanas não entram, e a estatal
Aramco tem o monopólio da produção. Por essa e outras, lembra
discretamente o "Wall Street Journal" em reportagem sobre as nacionalizações de Hugo Chávez no
setor energético, as grandes companhias do petróleo vão continuar
na Venezuela, onde, ainda que como sócias minoritárias, se manterão no ramo e faturando.
O México, em geral, não é tido
como dado a desvarios econômicos. Pelo contrário, seu pragmatismo comercial recolhe elogios. Lá
também a exploração petrolífera é
monopólio da estatal Pemex, já há
algumas décadas. Tal como a
PDVSA venezuelana, a Pemex sustenta o Estado mexicano, anda enfrentando dificuldades (com poços
esgotados) e tem sido acusada de
ineficiência pelos defensores da
abertura do mercado.
O México tem uma carga tributária muito baixa, em torno de 12%
do PIB. Isso costuma ser citado como grande coisa. Lá é considerado
um agravante do problema econômico pelo presidente Felipe Calderón, que tomou posse em dezembro. Calderón, um conservador,
tem falado em aumentar a arrecadação e acabar com monopólios
privados, que dominam da telefonia às tortilhas.
O peruano Alan García decretou
moratória em seu primeiro governo, nos anos 1980, mas foi saudado
com alívio quando derrotou, no
ano passado, o ultranacionalista
Ollanta Humala, candidato a fazer
dobradinha com Chávez. García
andou em peregrinação por Washington para conseguir a aprovação do Tratado de Livre Comércio
assinado entre o governo Bush e
seu antecessor, Alejandro Toledo.
Como fez Chávez no início do
ano, García obteve na semana passada superpoderes do Congresso
para legislar por 60 dias, sobre segurança e narcotráfico. Diferentemente do boliviano Evo Morales,
García não quer conversa com os
cocaleiros. Prometeu mão dura
contra eles, assim como faz o colega colombiano Álvaro Uribe, que
há anos gasta milhões do Plano Colômbia com a fumigação das plantações de folha de coca -é verdade,
com resultados sofríveis.
Algumas políticas provocam
censura e espanto; outras, idênticas ou quase, são tratadas como fatos da vida, produtos de circunstâncias particulares, mesmo que
combinadas com autoritarismo.
Depende de quem elas beneficiam.
Historicamente, a coerência é fraca diante da conveniência.
CLAUDIA ANTUNES é editora de Mundo
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