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CLÓVIS ROSSI
Briga de comadres e verdades
SÃO PAULO - Convido o leitor a
dissecar comigo a mais recente polêmica no mundo político, desta vez
envolvendo correligionários, o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o
presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, ambos do PT.
Para Genro, é incorreto proibir a
Polícia Federal de filmar nas dependências da Câmara, porque poderia induzir malfeitores a procurá-la para tramar trambiques. Dissecação:
1 - Ele só pode estar dizendo que a
Casa das Leis (como antigamente
era a Câmara dos Deputados) não é
ambiente suficientemente asséptico para afastar trambiqueiros. Note, caro leitor, que estou sendo de
uma elegância infernal.
Afinal, qualquer bobinho seria
capaz de imaginar uns 1.500 outros
lugares bem mais tranqüilos para
tecer tramóias.
2 - O ministro está dizendo que o
pais da pátria são suscetíveis a conversas não muito santas (essa elegância verbal ainda me mata). Afinal, ninguém iria tramar trambiques na Câmara com o faxineiro ou
o garçom do restaurante do Senado,
certo? O buraco, nesse caso, é obviamente mais em cima.
Chinaglia, ofendido, diz que, se a
Polícia Federal estiver em ação na
Câmara, o cidadão de bem que
queira levar uma denúncia ou queixa a um parlamentar tende a se sentir inibido.
Dissecação, de novo: Chinaglia só
pode estar dizendo que a polícia inibe cidadãos de bem (no caso, a PF,
subordinada a Genro).
Se eu ainda acreditasse em Papai
Noel, diria que o presidente da Câmara poderia utilizar a posição de
segundo homem na linha sucessória da República para, em vez de
afastar a polícia, ajudar a fazê-la
trabalhar de tal forma que o cidadão de bem se sinta protegido, e não
intimidado por ela, certo?
Vê-se, pois, que as instituições da
pátria não são "investment grade".
Não sou eu quem diz, mas dois de
seus expoentes.
crossi@uol.com.br
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