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RUY CASTRO
Olerê-liri
RIO DE JANEIRO - De repente,
descobrimos que nem tudo na Áustria é "A Noviça Rebelde". De fato,
não há muito em comum entre a
doce Maria von Trapp e seus sete
enteados cantando "My Favorite
Things" e os sete filhos que o maníaco Josef Fritzl gerou em sua própria filha Elisabeth, durante os 24
anos em que a manteve prisioneira
no porão de casa sem que sua mulher percebesse.
Fritzl, que já fora condenado pela
violação de uma jovem em 1967 e é
suspeito do assassinato de outra,
em 1986, pode pegar prisão perpétua por estupro, incesto e seqüestro
de sua filha e de seus filhos-netos e
pelo assassinato por omissão de um
desses filhos, morto ao nascer por
falta de cuidados médicos.
O governo austríaco estuda uma
campanha para limpar a imagem do
país. Não acha justo que, por causa
de um tarado, a Áustria veja arranhada a sua imagem de um paraíso
em que homens e mulheres de macaquinho fazem olerê-liri pelas encostas e que produziu gênios em série por 200 anos. Com razão, prefere ser lembrada por esses gênios.
Homens e mulheres como Mozart, Haydn, Schubert, Johann
Strauss 2º, Gustav Mahler e Arnold
Schoenberg na música, Karl Kraus,
Arthur Schnitzler, Rainer Maria
Rilke, Robert Musil e Stefan Zweig
na literatura, Oscar Kokoschka e
Gustav Klimt nas artes plásticas,
Ludwig Wittgenstein e Karl Popper
na filosofia, Max Reinhardt no teatro, Erich von Stroheim, G. W.
Pabst, Fritz Lang, Billy Wilder, Otto
Preminger e Hedy Lamarr no cinema, e até o nosso Otto Maria Carpeaux na crítica. Sem esquecer a sábia imperatriz Maria Leopoldina de
Habsburgo, primeira mulher de d.
Pedro 1º e mãe de d. Pedro 2º.
Mas, pensando bem, Freud, que
considerava os seres humanos, inclusive os bebês, monstros capazes
de tudo, era igualmente austríaco.
Aliás, Hitler também.
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