São Paulo, segunda-feira, 03 de junho de 2002

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MEDO DOS IMIGRANTES

Ministros dos 15 países membros da União Européia, bem como dos candidatos à entrada no bloco, apoiaram, em Roma, a proposta de constituição de um corpo policial comum encarregado de vigiar as fronteiras da UE. Trata-se de uma tentativa de responder à crescente preocupação da população com a imigração ilegal.
A recente onda de ascensão de políticos e partidos ultraconservadores naquele continente se nutre de um sentimento generalizado de insegurança. A propaganda direitista explora essa resignação coletiva, associando-a aos imigrantes asiáticos e africanos que adentram os países europeus. Como uma das bandeiras da extrema direita européia é de oposição à UE, é compreensível que haja uma tentativa de resposta à questão da imigração no âmbito do bloco.
Na maioria dos países da UE, os imigrantes não passam de 6% da população total. Nas duas grandes nações que constituem exceção, Alemanha e Áustria, a população de origem estrangeira responde por entre 6% e 10% do total de habitantes. Os números, portanto, não autorizam a conclusão de que a Europa tenha sido "invadida" por estrangeiros.
É possível identificar, embutida na questão da imigração, uma tensão geral entre as necessidades dos empregadores -de baratear o custo da mão-de-obra- e as dos trabalhadores "nativos", que assistem à convergência entre a entrada de imigrantes e a cronificação do desemprego.
Países ricos possuem muitas chaves que podem atacar as causas do problema. O protecionismo agrícola europeu e norte-americano, um exemplo em evidência, é sério entrave ao desenvolvimento das nações periféricas. A falta de perspectiva de futuro nos países pobres é fator fundamental para a emigração rumo à Europa. Mas, para que o problema seja atacado em sua raiz, será preciso mudar o enfoque conservador que dá o norte à política do Primeiro Mundo e que tende a reduzi-lo a uma questão de segurança nacional.


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