|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO
DE MORAES
A máquina pública
EXPRESSEI no artigo anterior
a minha preocupação com o
quadro de longo prazo dos
gastos do governo da União, focalizando, em particular, as despesas
com os servidores públicos.
Nessa área, o governo federal
criou para si mesmo uma espécie
de superindexação: cada reajuste
concedido aos funcionários públicos tem um enorme impacto sobre
as suas próprias despesas futuras,
como afirma o economista Raul
Velloso no seu estudo "Crescimento do PIB ou crescimento do gasto
público: o dilema da economia brasileira", publicado na revista "Indústria Brasileira", da Confederação Nacional da Indústria, em abril
de 2007.
Esse é o caso dos reflexos do aumento de salário mínimo que, entre 1996 e 2006, foi de 22,4% acima
da variação do PIB. Ou seja, as despesas com a máquina pública cresceram muito mais do que a economia brasileira. Isso é perigoso, pois
obriga o governo a buscar o equilíbrio com mais impostos ou redução de investimentos.
Na análise das despesas com o
funcionalismo, há que considerar
dois aspectos. O primeiro deles diz
respeito às categorias mais responsáveis pelo desequilíbrio das contas. O segundo aspecto se refere à
produtividade da administração
governamental.
No primeiro aspecto, as categorias que receberam os maiores aumentos de vencimentos e demais
benefícios foram os integrantes
dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Ministério Público da
União. Se nada for feito, os gastos
com esses órgãos tornar-se-ão explosivos nos próximos anos.
Uma análise detalhada do Judiciário e do Ministério Público indica que as despesas nesses setores
passarão de R$ 16,3 bilhões para R$
24,5 bilhões anuais entre 2006 e
2010, ou seja, um aumento de mais
de 50% (Ribamar Oliveira, "Trajetória explosiva", "O Estado de S.
Paulo", 19/3)!
Esse aumento é irreversível e decorre dos reajustes concedidos em
2006. Trata-se de um engessamento eterno -a tal superindexação-
que gera despesas crescentes. Em
2012, os gastos serão 54,3% maiores do que foram em 2006.
Com pequenas variações, essa
indexação forçada ocorre também
com os servidores do Poder Legislativo e, em menor escala, com os
do Poder Executivo.
Se há uma camisa-de-força do lado das despesas, o que fazer? Em
primeiro lugar, segurá-las nos níveis atuais, que já são exorbitantes.
Em segundo lugar, melhorar a produtividade da máquina pública,
buscando produzir mais com os
mesmos recursos.
Esse é um principio básico de eficiência que vale tanto para o setor
privado como para o público. Retomarei esse assunto no próximo artigo.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A democracia coroada Próximo Texto: Frases
Índice
|