São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2008

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Milícias da tortura

OS CARTÉIS da droga dominam o morro, oferecem algum serviço à população intimidada e impõem, pela força das armas, obediência cega. A fim de combatê-los, milícias privadas expulsam os traficantes, dominam o morro, exigem dinheiro dos moradores e impõem, pela força das armas, obediência cega.
Nesse ambiente em que todos perdem, exceto tiranetes, ocorreu nova ofensa brutal contra o direito dos cidadãos de conhecer a verdade. Três profissionais do jornal "O Dia" que faziam reportagem na favela do Batan (zona oeste do Rio) foram seqüestrados e torturados durante sete horas e meia por "milicianos" que dão as cartas no local.
Os jornalistas empreendiam apuração sobre como é o cotidiano de uma favela dominada por essas milícias mercenárias, em geral formadas por soldados, policiais e bombeiros, da ativa ou afastados. A equipe do jornal foi submetida pelos "milicianos" a uma longa sessão de choques elétricos, espancamento e asfixia com sacos plásticos.
O secretário da Segurança confirmou que há policiais envolvidos no episódio. É, de resto, altíssima a probabilidade de encontrar agentes públicos atuando ilegalmente em cada uma das cem localidades dominadas pelas chamadas milícias no Rio. Essas forças, que já nascem infiltradas no Estado, estão financiando e elegendo políticos para defender seus interesses criminosos.
O episódio com os jornalistas de "O Dia" comprova que o domínio territorial dos ""paramilitares" é tão brutal e criminoso quanto o exercido pelo narcotráfico. Ambos não hesitam em aplicar os instrumentos da barbárie para manter seu mando.
O poder público não pode tolerar nem cartéis nem milícias. Identificar e punir com celeridade os responsáveis por esse atentado contra a liberdade de informação é o mínimo que se espera do governo e da Justiça do Rio.


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