São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Dunga: trauma e lição

SÃO PAULO - Em 1982, vivemos um trauma; em 2006, recebemos uma lição. O jogador Dunga é uma consequência histórica do trauma da seleção de 82. E o técnico Dunga parece ter sido o produto da lição de 2006. Não deu certo. O dunguismo está morto. E o futebol agradece.
Voltemos no tempo, porque as comparações esclarecem: a derrota da seleção de Telê, Sócrates, Zico e Falcão, que fascinou o mundo, pertence à ordem da fatalidade -e por isso foi traumática. O destino daquele time marca o fim de uma era do futebol brasileiro. A derrota em 82 acelerou a escalada mundial do futebol-força, feio e pragmático, que, para nós, desembocou na seleção de Parreira, tão bem simbolizada na figura do capitão zangado.
Lembre-se, porém, que em 94 a pátria foi salva por Romário, o gênio arredio, convocado sob pressão na última hora. Naquele time "chatocrático", a ovelha negra fez arte e ganhou a Copa praticamente só.
Em 2006, é o caso de falar menos em fatalidade do que em desleixo. A cena de Roberto Carlos ajeitando a meia enquanto o atacante francês selava nosso destino passou à história como síntese autoexplicativa de um fiasco anunciado. O time galáctico e deslumbrado de 2006 se dissolveu na própria fama -virou éter; o de agora desmoronou na própria fragilidade -virou pó.
Dunga, o treinador, quis se mirar no espelho do capitão vitorioso de 1994. Acabou criando um time à sua semelhança -esforçado, aguerrido, humilde, sem "estrelismos", mas sobretudo um time medíocre e um tanto destemperado.
O discurso patriótico serviu para justificar o espírito punitivo do técnico e os hábitos restritivos e escolares de uma seleção cujos atletas lembram, talvez, mais escoteiros, infantilizados, do que os "guerreiros" da propaganda na TV.
É simbólico que Felipe Melo, o dunguinha versão 2010, termine a Copa no papel de carrasco, como Roberto Carlos quatro anos atrás.
Dunga exagerou na dose. O remédio se transformou em veneno.


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