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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Dunga: trauma e lição
SÃO PAULO - Em 1982, vivemos um
trauma; em 2006, recebemos uma
lição. O jogador Dunga é uma consequência histórica do trauma da
seleção de 82. E o técnico Dunga parece ter sido o produto da lição de
2006. Não deu certo. O dunguismo
está morto. E o futebol agradece.
Voltemos no tempo, porque as
comparações esclarecem: a derrota
da seleção de Telê, Sócrates, Zico e
Falcão, que fascinou o mundo, pertence à ordem da fatalidade -e por
isso foi traumática. O destino daquele time marca o fim de uma era
do futebol brasileiro. A derrota em
82 acelerou a escalada mundial do
futebol-força, feio e pragmático,
que, para nós, desembocou na seleção de Parreira, tão bem simbolizada na figura do capitão zangado.
Lembre-se, porém, que em 94 a
pátria foi salva por Romário, o gênio arredio, convocado sob pressão
na última hora. Naquele time "chatocrático", a ovelha negra fez arte e
ganhou a Copa praticamente só.
Em 2006, é o caso de falar menos
em fatalidade do que em desleixo.
A cena de Roberto Carlos ajeitando
a meia enquanto o atacante francês
selava nosso destino passou à história como síntese autoexplicativa
de um fiasco anunciado. O time galáctico e deslumbrado de 2006 se
dissolveu na própria fama -virou
éter; o de agora desmoronou na
própria fragilidade -virou pó.
Dunga, o treinador, quis se mirar
no espelho do capitão vitorioso de
1994. Acabou criando um time à
sua semelhança -esforçado,
aguerrido, humilde, sem "estrelismos", mas sobretudo um time medíocre e um tanto destemperado.
O discurso patriótico serviu para
justificar o espírito punitivo do técnico e os hábitos restritivos e escolares de uma seleção cujos atletas
lembram, talvez, mais escoteiros,
infantilizados, do que os "guerreiros" da propaganda na TV.
É simbólico que Felipe Melo, o
dunguinha versão 2010, termine a
Copa no papel de carrasco, como
Roberto Carlos quatro anos atrás.
Dunga exagerou na dose. O remédio se transformou em veneno.
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