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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O choque

SÃO PAULO - É possível que as más notícias da sexta-feira (dólar, risco- país, Bolsa) não se repitam nos próximos dias. Ainda assim, servem de lembrete, poderoso lembrete, sobre o erro conceitual cometido pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao manter e, pior, aprofundar a política econômica anterior, o governo justificou-se dizendo que era preciso um "choque de credibilidade", ante a situação falimentar encontrada, para recuperar a confiança dos mercados. Pena que:
1) O mercado financeiro não outorga certificados de confiança. Quer lucro. Ou, como escreveu Luís Nassif ontem, "não analisa países sob a ótica de que os fundamentos estão bons ou maus, mas se o país está barato ou caro". Simples assim.
2) Um país nunca fica barato ou caro para sempre aos olhos dos mercados. Portanto não há a menor hipótese de que a tal credibilidade que o governo queria conquistar possa ser obtida para sempre. Acalmar os mercados exige doses diárias de sangue (do país) e de lucro (dos operadores). Não há a menor filosofia nessa história, há uma incessante busca do mais fulgurante rendimento possível no menor espaço de tempo possível.
3) Na hora em que os mercados atacam, como o fizeram sexta-feira, não há defesa.
O país continua, antes como depois do suposto "choque de credibilidade", com a mesma vulnerabilidade.
Na verdade, está em situação pior, porque a economia real se deteriorou, o desemprego aumentou, a tensão social, por extensão, tornou-se ainda mais aguda e a paciência do público diminuiu.
Repito: é até possível que não houvesse mesmo outro caminho que não repetir, radicalizando-a, a política anterior. Mas, ante as evidências de que ela também não funciona, ou se pensa (e rapidamente) em alguma alternativa ou o choque de credibilidade vai virar apenas choque e eletrocutar o governo.


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