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BORIS FAUSTO
Preso por ter cão...
O episódio do duplo sequestro
da família Silvio Santos deixou
em suspenso São Paulo e outras cidades brasileiras, tendo também repercussão internacional.
Por que isso aconteceu? Qualquer
criança sabe a resposta: o comunicador Silvio Santos é uma figura pública
importante em nossa vida social, embora cada um de nós tenha o direito de
simpatizar ou não com ele. Pessoalmente, acho sua voz irritante, seu estilo brega e seus programas um produto
de massa mal fermentado.
Porém essa é uma opinião minoritária, de alguém que faz parte de um setor intelectualizado da sociedade. Um
setor, diga-se de passagem, que não
pode ser simplesmente desqualificado, a partir de uma postura equivocada, identificando nível intelectual com
elitismo.
Para a grande maioria da população
brasileira, Silvio Santos é visto como
um homem que veio de baixo e se
converteu não só em um comunicador vitorioso, mas em uma figura,
protetora, de pai e amigo. Um personagem assim cala fundo na alma de
milhões de pessoas carentes; carentes
não apenas no plano econômico, mas
também no afetivo. Não foi, aliás, por
acaso que o bandidinho iniciante, mas
assassino, foi se abrigar na casa do comunicador, em um lance surpreendente que demanda explicações psicológicas.
Insisto nesse ponto porque ele é
uma premissa fundamental para analisar o comportamento do governador
Geraldo Alckmin, comparecendo à
cena do sequestro. Como ninguém ignora, sua presença foi exigida pelo sequestrador, para garantir sua integridade física e a rendição, após várias
horas de expectativa.
Tenho a impressão de que o gesto do
governador paulista foi aprovado pela
maioria da população. Mas, de um
modo geral, ele sofreu a condenação
da mídia. Um dos principais argumentos da condenação consiste em
dizer que Alckmin só interferiu no caso pessoalmente porque envolvia uma
figura importante. Se a exigência dissesse respeito a um cidadão anônimo,
ele não teria tomado essa atitude.
O argumento pode ser politicamente correto, mas não se sustenta, tendo
como premissa um falso igualitarismo
que o povo, em seu realismo, não engole. Na verdade -nunca é demais
insistir- Silvio Santos é um personagem nacionalmente conhecido. Personagens desse tipo, em qualquer país
do mundo, recebem um cuidado especial por parte das autoridades, em
especial quando sua segurança corre
riscos.
A difícil decisão tomada por Alckmin não poderia deixar de levar em
conta essa circunstância nem o significado que teria sua recusa em atender à
exigência do sequestrador. Não é preciso muito esforço para imaginar o
que teriam dito as mesmas pessoas
que criticaram o governador se ele tivesse optado por outro caminho.
Choveriam críticas à omissão governamental, à sua covardia por não correr riscos, por preferir continuar em
um encontro onde se discutiam -suprema ironia!- problemas da segurança pública. Choveriam ainda acusações de que ele tratara de se resguardar, enquanto na linha de frente dois
policiais -as maiores vítimas de um
grande show- tinham sido assassinados.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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